Após aprender Braille, deficiente visual abre o próprio negócio em Mauá (SP)

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após aprender braille deficiente visual abre negócio

Foi através do Braille que João Paulo Lopes Ferreira, 31 anos, de Mauá (SP), conseguiu ter mais independência e abrir o seu próprio negócio. O seu contato com o Braille foi possível graças ao curso gratuito que a Prefeitura de Mauá oferece a deficientes visuais no Centro de Formação de Professores Miguel Arraes. Além de ensinar a ler e escrever, o curso também ensina operações matemáticas com o soroban.

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João Paulo contou ao Razões que em 2011 ele dormiu enxergando e no dia seguinte, acordou cego. Isso aconteceu devido a uma doença rara: reumatismo no sangue.

“Entre os 7 e 14 anos, a doença estava ativa no meu corpo e depois estabilizou. Naquele tempo, a medicina não conseguiu diagnosticar, pois não realizaram exames laboratoriais. Como na época, os sintomas eram febre e dor de cabeça, eles tratavam com dipirona”, disse.

Aos 24 anos, a doença voltou ao estado crônico atacando severamente a sua visão.

“Quando perdi a visão, fui ao Pronto-Socorro e passei por vários médicos até chegar no oftalmologista. Tratei durante um ano e meio, mas eles não estavam conseguindo descobrir o que estava acontecendo. Hoje, meu olho esquerdo é prótese e o olho direito é nula”, informou.

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Fazer o curso de Braille também fez parte do seu processo de aceitação com a deficiência

Aceitando a deficiência

João Paulo relatou que foi difícil aceitar a deficiência, pois acreditava que poderia voltar a enxergar, já que a visão do olho esquerdo oscilava.

“Entre 2011 e 2015, estava em tratamento. Fiz cirurgia para tentar reverter, mas não conseguiram. Foi quando removi o olho esquerdo e coloquei prótese”, conta.

Fazer o curso de Braille também fez parte do seu processo de aceitação.

“Antes de começar o curso, eu nunca tive contato com o Braille e com o soroban [instrumento japonês para cálculos matemáticos]. Somente na época da escola, quando a gente tem aquele pequeno conhecimento.”

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O Braille melhorou a sua independência nas pequenas atividades do dia a dia

Colocando o Braille em prática

O jovem empresário nos contou que usa o Braille em tudo no seu dia a dia! E que conforme o que aprendia em sala de aula, colocava em prática para melhorar sua independência nas atividades diárias.

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“Com esse conjunto de coisas eu fui criando mecanismos para me virar. Andar sozinho, passear, sair para os lugares. Fui criando estratégias para me locomover. Também precisava ocupar meu tempo, por isso, eu resolvi mexer com o comércio.”

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“Eu trouxe para minha vida o raciocínio do Braille que é a organização.”

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O Braille para os negócios

Hoje, João Paulo administra um negócio de temperos, chás e ervas. Tem a sua própria quitanda para a venda dos produtos e usa o Braille para administrar o negócio.

“Eu trouxe para minha vida o raciocínio do Braille que é a organização. Decoro os meus produtos e onde eles estão. Não é fácil, é um exercício constante da mente, mas precisamos ter perseverança, insistir e ir assimilando. O soroban me ajuda na hora de passar o troco para o cliente. Eu já deixo tudo separado notas e moedas. O cliente não tem muita paciência e muitos não entendem, então, eu tenho que ser rápido no troco e no diálogo. Dou assessoria sobre os produtos que eu vendo, preciso saber”, contou.

Educação inclusiva

A Prefeitura de Mauá, por meio da Secretaria de Educação, oferece curso de Braille e soroban para deficientes visuais da cidade. A professora responsável pelo curso na Prefeitura é Rosilene Pova, que também é deficiente visual. Ela é pedagoga, bacharel em Direito e mestre em Formação de Docentes pela Universidade de São Caetano do Sul.

“O aprendizado permite a retomada das atividades sociais. Ao perder a visão, você perde também grande parte do poder de se comunicar. Hoje tudo é passado pela escrita. Nosso objetivo é justamente dar acesso”, disse a professora.

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“Depois que você fica cego, as pessoas se afastam e você se vê dentro de uma gaiola. Agora não, eu venho para o curso, volto pra casa, aproveito que estou no Centro da cidade e passo em algum lugar pagar uma conta, fazer uma compra. Eu abro uma porta e vou para onde eu quiser graças ao Braille. Recuperou minha autoestima e independência”, comemora João Paulo.

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crédito das imagens: Alemão Guerreiro/PMM

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