Nossa entrevistada da semana é a Tatiana Vieira, 30 anos, que nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e hoje vive em Köln, Alemanha, de onde trabalha e estuda alemão.
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Designer gráfico e ilustradora, Tati enxerga o mundo como o seu quintal e faz questão de registrar sua jornada com postais e tirinhas envolventes no seu projeto “O Mundo é Meu Quintal” e “As Viagens de Süssie”.
Provavelmente, vocês já conhecem o trabalho dela. Tati ilustra algumas categorias do novo site do Razões para Acreditar com a sua personagem Süssie.
Na entrevista a seguir, ela fala sobre sua vida na Alemanha, a relação com os pais que estão no Rio de Janeiro, a sua formação e os trabalhos que têm feito atualmente, há quanto tempo está viajando, histórias que a fizeram enxergar as pessoas de uma maneira que ela não estava habituada e qual o seu próximo destino.
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1) Tati, queria que você me falasse como é a sua relação com os seus pais. Foram eles que inspiraram a criação da Süssie?
Minha relação com meus pais parece ser pouco comum. Não temos nada muito de afeto, de abraço, mas sempre fico sabendo por amigos ou parentes que meu pai chorou ao contar sobre como estou hoje, quem sou, o que faço. Ou pegava minha mãe feliz contando sobre as conquistas de minha irmã e eu. Coisas desta natureza, mas não temos muito disso, ao vivo, digamos. Minha mãe gosta muito de falar, mas não se envolve muito com minhas descobertas. É muito reservada. Muitas vezes, eu ficava querendo mostrar minhas descobertas, mas sem ser “A” chata. Meu pai sempre queria ver fotos, é curioso. Então os postais foi um caminho.
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Não pensei muito sobre, eu só queria brincar de chegar em casa de outro jeito. Então, como eles nunca pegaram um avião e eu obtive a “conquista” de sair do país, achei que seria legal, como Amelie Poulain, com seu gnomo enviando fotos. E ser eu, inesperadamente chegando em casa, via correio, dizendo: “Oh, vocês me fizeram, olha que tanto de coisa legal tem por aí. Consegui graças a vocês. Obrigada!”.
2) Conte um pouco sobre a sua formação e trabalhos que têm feito atualmente.
Minha formação é uma longa história. Eu não fiz os clássicos cursos técnicos no ensino médio e isso me deixava bastante chateada/frustrada. Era como não ter poderes.
Fiz faculdade de Produção Cultural e achava que eu conhecia nada do Rio (e não conhecia mesmo). Como ser produtora sem conhecer a cidade? Então, me inscrevi em um curso de Turismo. Meu primeiro técnico (eu tenho poderes \o).
Depois disso, fiz técnico em Moda, Edição e Computação Gráfica e Design de Interiores. Mas em paralelo, fiz graduação em Design Gráfico e cheguei a fazer um ano e meio de Pedagogia e um ano de História. Mas só me formei em Produção Cultural e Design Gráfico. Porém, ainda tenho a ideia de fazer mais um curso.
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Fiz também pós-graduação em Artes Visuais, MBC em Gestão de Agência de Publicidade e acabei de me formar na pós em Design de Moda, com ênfase em sustentabilidade.
Gosto mesmo é de usar minha pluralidade de conhecimento e promover soluções, investigar.
Trabalho remoto em meu escritório, em Köln, Alemanha, onde moro atualmente. Atuo fazendo design gráfico para uma marca de moda no Rio de Janeiro, acabo de fazer um projeto de ilustração para a Austrália, fiz site para um sindicato no Rio, impressos para Köln, ilustrações e animação para Berlin, ilustrações para produtos em três lojas e assim voou o ano.
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3) Por quanto tempo você está viajando e quais países já visitou? Qual desses lugares você prometeu voltar um dia?
É recente. Eu trabalhava remoto desde 2012, mas sempre em paralelo aos trabalhos fixos em escritórios e empresas. Mas sempre com a Etérea Design ativa.
No final de 2014, me mudei de Jacarepaguá pra Tijuca e as coisas amadureceram. Percebi que não importava onde eu estivesse. Bastava ter internet e inspiração todos os dias. Eu precisava era viver, que o resto daria certo, aconteceria. E assim tem sido.
Já visitei Londres, Paris, Brugges, Antuérpia, Bonn, Praga, Amsterdam e Hong Kong. Sou uma iniciante, mas não tenho pressa, quero degustar por um tempo os lugares e fazer pequenos registros.
Mudei pra Alemanha em abril de 2015 e estudo alemão, em paralelo aos trabalhos. Há pouco mais de um mês comecei a trabalhar com produção de eventos aqui para ter mais contato com a cultura e ouvir/falar mais em alemão. É puxado, um grande desafio, mas está tudo funcionando.
Gostaria de pisar todo ano em Londres. Fui duas vezes. Por mim, estaria todo ano em Hong Kong e em Londres. Identifico muito com essas cidades.
4) Nesse tempo, alguma história em especial te fez enxergar as pessoas de uma maneira que você não estava habituada?
Sim, todo dia isso acontece. Anoto algo quase todos os dias. Não fico sem ter algo para anotar comigo. Tudo vira uma nota, uma tirinha.
Todo dia reaprendo a forma de ver. Estudo com alguns refugiados e outros que saíram de seus países pelos mais diversos motivos.
Essa semana que passou ocorreu algo bonito na aula de Política. Uma senhora da Síria escolheu a frase para apresentar: “Demokratie muss man lernen” (a democracia deve ser aprendida). Ou seja, é preciso que alguém mostre que existe este caminho, ou ele simplesmente não acontece.
A senhora disse: “caramba, como eu gostaria de ter tido oportunidade de aprender isso. Eu não sabia…”. Ela levemente marejou os olhos e eu tive que me segurar para não chorar. Vejo muito brilho todos os dias em cada fala que vou aprendendo a ouvir. Como se fosse mágica. Vim sem saber absolutamente nada de alemão e hoje consigo me expressar. Aqui, ela não usa véu e tem liberdade. No país dela, seria morta por ser viúva e andar sozinha, sem véu, então, sem chance. É muito tenso tentar se imaginar na pele do outro.
5) Como lidar com a saudade de casa, já que os seus pais também não usam computador. Vocês se falam apenas por telefone mesmo?
Sim, não nos vemos. Eu ligo todo fim de semana, pois meus pais não estão em casa durante a semana. Sempre em correria resolvendo algo, ou trabalhando. Eu ligo do computador para o telefone fixo de casa, via Skype.
Na primeira vez que liguei, meu pai ficou maluco, dizendo que a ligação era tão “limpa”, que parecia que eu estava do lado de casa. Que mal podia acreditar. E começou a agradecer a São Jorge, por estar tudo bem e chorou (sim, nós dois choramos à toa).
Nesse domingo, minha mãe perguntou: “E como está seu cabelo? Deve estar grande, como você está fazendo?”. Falei que tive uma boa mestra e estou cortando meu cabelo sozinha. Ela corta o dela assim há anos e eu dizia que era impossível. Pois é, impossível já sei que não é.
6) Onde você está hoje e qual o próximo destino?
Todo mundo diz: “Ah, mas você tem mó cara de quem está em Berlim!”. Mas, não, não estou em Berlim. Estou do outro lado do antigo muro, no lado ocidental-capitalista, da antiga divisão do Muro de Berlim, em Köln, uma cidade multicultural universitária da Alemanha.
Meu próximo destino ainda é TOP secret. Pra deixar aquele feeling de: “Where in the world is Carmen Sandiego?”.
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