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Casal interracial rejeitado pela sociedade nos anos 1940 comemora 73 anos de relacionamento

Casal interracial rejeitado pela sociedade nos anos 1940 comemora 73 anos de relacionamento 1

Mary, 81 anos, é casada com Jake, 86, e mora em Solihull, em West Midlands, na Inglaterra. Por opção, eles nunca tiveram filhos.

Mary é uma ex-vice-diretora e Jake trabalhou nos correios antes de se aposentar. Ela é branca e seu marido, negro. O amor nutrido entre eles sempre foi “daltônico”, como diz a aposentada, mas infelizmente não para seus amigos, conhecidos e familiares, que por anos discriminaram o casal.

“Quando eu disse ao meu pai que ia me casar com Jake, ele respondeu: ‘Se você se casar com aquele homem, nunca mais vai pisar nesta casa”, relembrou Mary ao portal Daily Mail.

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“Ele ficou horrorizado que eu pudesse pensar em me casar com um homem negro, e logo aprendi que a maioria das pessoas se sentia da mesma forma”, disse.

Os primeiros anos de relacionamento de Mary e Jake em Birmingham foram um “inferno”,  contou a aposentada, que chorava todos os dias e mal comia. “Ninguém falava com a gente, não encontrávamos lugar para morar porque ninguém alugava para um homem negro, e não tínhamos dinheiro”.

Os anos 1950 e as décadas seguintes foram desafiadores. “As pessoas apontavam para nós na rua. Quando nova, dei à luz um filho natimorto aos oito meses. Não estava relacionado ao estresse que eu estava passando, mas partiu meu coração, e nunca mais tivemos filhos”, disse Mary.

Para ela, é relativamente compreensível que as gerações mais novas não compreendam o preconceito extremo que ela e seu marido vivenciaram no século passado. “É importante lembrar que quase não havia pessoas negras na Grã-Bretanha nos anos quarenta”, enfatizou, o que tornava a discriminação racial ainda mais direta e individual.

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Mary conheceu Jake quando ele veio de Trinidad e Tobago, onde nasceu, para morar na Grã-Bretanha. Logo, juntou-se ao Exército Aliado na Segunda Guerra Mundial para derrotar o Eixo.

“Na época, estudávamos na mesma escola técnica. Eu estava tendo aulas de datilografia e taquigrafia e ele foi enviado para lá para treinamento pela Força Aérea. Ele estava com um grupo de amigos e eles chamaram meu amigo e eu para conversar. Nós nem sabíamos que eles falavam inglês, mas Jake e eu começamos a conversar. Ele citou Shakespeare para mim, o que eu adorei”, relembrou a esposa.

Algumas semanas depois eles foram fazer um piquenique, quando foram flagrados por uma senhora passando de bicicleta. “Uma inglesa branca com um imigrante negro foi um choque para a cabeça dela. Pouco depois, essa senhora me denunciou ao meu pai, que me proibiu de vê-lo novamente”.

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Meses se passaram, Jake voltou para Trinidad, mas ele e Mary continuaram a trocar cartas até o início de 1948, quando o rapaz conseguiu voltar ao Reino Unido, onde conseguiu um trabalho melhor remunerado.

Foi apenas uma questão de tempo até ele pedi-la em namoro. “Ele me pediu em casamento, do nada, quando eu tinha apenas 19 anos. Meu pai me expulsou e eu saí com apenas uma pequena mala em meu nome. Nenhuma família veio ao nosso casamento no cartório em 1948”, relembrou Mary.

Aos poucos, a vida foi se tornando mais agradável. “Consegui trabalhos como professora, até me tornar vice-diretora. Primeiro Jake trabalhou em uma fábrica, depois nos Correios. Lentamente, fizemos amigos juntos, mas foi tão difícil… Eu costumava dizer aos novos amigos: ‘Olha, eu tenho que te contar isso antes de te convidar para minha casa — meu marido é negro'”, lamentou.

O pai da ex-professora faleceu quando ela tinha 30 anos e, embora já tivessem se reconciliado, ele nunca aceitou Jake.

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“Hoje estamos casados ​​há 63 anos (73 de relacionamento) e ainda estamos muito apaixonados. Não me arrependo nem por um instante de ter me casado com ele, apesar de toda a dor que sofremos”, afirmou Mary.

“Eu me sinto tão afortunado por ter conhecido e casado com Mary, mas me entristece que não tenhamos sido aceitos pela sociedade da época. Hoje eu digo aos jovens negros: ‘Vocês não têm ideia de como era antes'”, disse Jake.

“Quando cheguei ao Reino Unido, fui vítima de abusos todos os dias. Uma vez eu estava em um ônibus e um homem esfregou as mãos no meu pescoço e disse: ‘Eu queria ver se a sujeira saía’. E naquela época você não podia trabalhar em um escritório – porque um homem negro em um escritório com todas as garotas brancas não era considerado seguro”, relembrou.

“Me alegra saber que esse passado obscuro ficou para trás e hoje somos respeitados”, concluiu Jake.

Fonte: Upsocl
Fotos: Nick Holt

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