Filho de artistas circenses, Círio Brasil, de 47 anos, de Fortaleza (CE), tem paixão pelo picadeiro. Em 2002, sua mãe, famosa por seus números aéreos, morreu logo após uma apresentação. Os irmãos de Círio quiseram colocar atear fogo na lona, mas ele não deixou. Hoje, administra o circo e considera o ofício uma missão, uma maneira de manter viva a memória de sua mãe.
“Nasci em 1973, na barraca do Circo do seu Borges, na cidade de Santarém, no Pará. Sou fruto de uma clássica história de famílias circenses: anos antes de se conhecerem, namorarem e casarem, meus pais fugiram com o circo para perseguir o sonho de uma vida melhor.
Foi no dia a dia, debaixo da lona, em cima do picadeiro e morando em um trailer, que criaram cinco filhos. Minha mãe, dona Francisca, conhecida como Mirtes, era considerada uma das melhores artistas do teatro circense do Nordeste. Brilhava nos números aéreos. Uma mulher negra, analfabeta, que decorava o texto enquanto liam para ela. A gente tinha o maior orgulho de vê-la se apresentar.
“Pensei: ela sofreu, batalhou por isso aqui. E quando ela morre tudo se acaba? Vou continuar.”
PUBLICIDADE
CONTINUE LENDO ABAIXO
Em 1985, meu pai foi embora e minha mãe precisou buscar outras formas de sustentar a família. Por anos, eu e meus irmãos nos apresentamos em circos diferentes, mas a víamos cada vez mais debilitada. Em 1990, conseguimos todo o material necessário para montar nosso próprio circo. Em 2 de julho daquele ano, estreamos em Patacas, no Ceará. Ali, as coisas mudaram. Não passamos mais dificuldades, a família se uniu novamente.
Até que, em 2002, ela faleceu, logo após se apresentar. Meus irmãos queriam atear fogo em tudo. Eu pensei: ela sofreu, batalhou por isso aqui. E quando ela morre tudo se acaba? Vou continuar. Após a missa de sétimo dia, estreamos o Circo Mirtes. Eu, minha avó, minha esposa e nossos sete filhos. Foi incrível, o circo ficou superlotado. Pedi um minuto de silêncio, contei a história e bateram palmas em homenagem a minha mãe. Com o circo, temos ela presente. A minha maior tarefa é levar em frente esse legado. O espetáculo não pode parar.”
Texto: Helaine Martins
Foto: Marcus Steinmeyer
Conteúdo extraído da reportagem “Laços de família”, publicada originalmente na Sorria #80, em agosto de 2021.
PUBLICIDADE
CONTINUE LENDO ABAIXO