Aos 31 anos, Manoel Vanderic Filho é responsável por três importantes delegacias em Anápolis: o Sexto Distrito Policial e as especializadas de Proteção ao Idoso e ao Deficiente Físico e Mental.
Formado em Direito, ele prestou o concurso de delegado sem esperar nada. Ao passar, achou que ficaria apenas as três anos exigidos, mas acabou se apaixonando pela profissão. “É que eu tinha outra ideia sobre a profissão. Principalmente agora, com essa Delegacia do Idoso e do Deficiente. Eu me encontrei e quero permanecer até eu me aposentar”, diz em entrevista ao Jornal Contexto.
O delegado se destacou com suas ações assistencialistas, apesar de não fazer parte de suas funções. Costuma ser severamente criticado por colegas de trabalho e seus pais nem sempre o apoiaram, mas hoje são parte fundamental da obra dele.
“Grande parte da minha própria instituição acredita que esse trabalho social não é da Polícia. Que a Segurança Pública é feita com prisão. Eu discordo. Este sistema está falido. Porque nunca se prendeu tanto como hoje. A Polícia nunca foi tão eficiente. E a criminalidade nunca aumentou tanto como agora. Então, demonstra que essa política de armas e de cadeia está equivocada”, conta.
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São muitos os trabalhos que ele passou a desenvolver para mudar esse cenário, pois ele também acredita que só reclamar não ajuda, era preciso fazer.
“Eu implantei a Delegacia do Deficiente, que atende a toda a circunscrição de Anápolis. A do Idoso, todos os crimes contra o idoso. E, nós funcionamos aqui no mesmo lugar, com uma equipe menor do que quando tinha só o sexto DP. Então, é quase um milagre o que a minha equipe faz. Agora, o que me ajuda muito, o que permite que nós realizemos um trabalho social é a atuação dos voluntários. Essa divulgação pela imprensa – por isso que eu sempre divulgo os casos -, sensibilizou tanto a comunidade, que hoje nós temos estudantes de Direito, de Enfermagem, faculdades, médicos, psiquiatras, oftalmologistas. Vários profissionais da saúde, e da Psicologia e da Psiquiatria que atendem aqui, trabalham aqui voluntariamente. Promovemos distribuição de cestas básicas; reforma de imóveis; consultas médicas, intermediação para cirurgia e, até, intermediação para aposentadorias”, explica.
Na busca por outras formas de punir criminoso, Vanderic acredita no uso da educação, trabalho social, proximidade, foco maior na vítima do que no autor. “Já fui alertado várias vezes para me envolver menos com a vítima. Já recebi sugestões de que eu devo fazer terapia, sob o argumento que estou muito equivocado na maneira de trabalhar. Olhe, é estatística: O Estado só consegue apurar e punir, de fato, o criminoso, em apenas dez por cento dos casos. Então, o que a vítima quer hoje é ser bem recebida, é ser bem tratada, é perceber que o Estado se preocupa com ela. E é isso que a gente faz aqui na Delegacia. E isso incomoda”, diz.
Ao ser questionado sobre algum caso marcantes contou a história de Dona Alice. “Nossa delegacia a adotou. Ela mora sozinha em um barraco muito pobre. O esposo faleceu, ela não tem nenhum parente aqui, as outras irmãs faleceram também. Sozinha. E ela tem uma deficiência mental. Então, ela não sai de casa há dez anos. Os vizinhos jogavam comida por cima do muro e ela jogando lixo de dentro para o lado de fora. Então, era é bicho. Quando chegamos lá, tivemos que cortar o portão. Ela nos agrediu, jogou pedra, bateu de porrete. Com o tempo, fomos conquistando a sua confiança. Hoje, é a Delegacia que recebe a aposentadoria dela, que leva a comida todo dia. Já foi reformado o imóvel dela. O único elo com a sociedade que existe é com os agentes daqui da Delegacia e comigo. Ela me chama de namorado mesmo, fala que vai se casar comigo”.
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O jovem delegado disse que vive isso 24horas e que não consegue separar pessoal do profissional. “Eu assumo o problema. Pode ser uma falha, eu sei que, pessoalmente, eu vou sofrer as consequências. Já estou sofrendo desgaste de saúde, desgaste emocional, não tenho vida social e até afetiva. Eu chego em casa e não consigo nem conversar com a minha mãe. O estresse é grande. É tanto problema que quando chega em casa, quero silêncio. Mas, nem sempre, isso acontece. Nos casos mais grave eu compartilho o meu celular com as vítimas. Às vezes, meia noite, elas me ligam para dividir um problema, para chorar. Eu me envolvo vinte e quatro horas, sete dias da semana”.
Há 03 anos, essa cachorra de rua começou a dormir escondida na Delegacia e aos poucos conquistou seu espaço. Adotada e…
Posted by Delegado Manoel Vanderic on Quarta, 18 de novembro de 2015
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