30 anos após 1ª Copa de futebol feminino, ex-jogadoras da seleção brasileira continuam amigas

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30 anos após 1ª Copa de futebol feminino, ex-jogadoras da seleção brasileira continuam amigas

Há exatos 30 anos, Elane marcou o primeiro gol da Seleção Brasileira na primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino, realizada na China em 1991.

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Foi o único gol marcado pela seleção, que dezesseis anos depois, novamente na China, competiu para terminar em 2º lugar – o melhor desempenho das nossas jogadoras até aqui. Inclusive, Marta brilhou, sendo a artilheira da competição com 7 gols!

Nos últimos anos, o futebol feminino segue em uma tendência de crescimento e reconhecimento internacional, inclusive no Brasil – algo que vem sendo construído desde os anos 1990 graças à Elane e a primeira geração de jogadoras que defenderam nossa seleção.

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Primeira geração

Hoje, Elane, 53 anos, trabalha como motorista de aplicativo. Todos os dias, ela deixa sua casa, no bairro Campo Grande, no Rio de Janeiro (RJ), às 5h da manhã com o objetivo de fazer R$ 150 por dia com as corridas.

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“Se eu não trabalhar, não como”, diz ela, de forma espontânea. Com bom-humor, ela tenta lidar com as dificuldades do cotidiano enquanto busca um trabalho fichado (com carteira assinada).

“Na verdade, estou sem trabalho e é difícil emprego com carteira assinada. Como não completei meus estudos, a única coisa que sei fazer é dirigir. E vamos em frente”, diz.

Graças aos anos de futebol, a ex-zagueira conseguiu comprar uma casa própria, onde mora com a mãe, dona Nilcea, 81 anos. Sem dúvidas, se atuasse hoje, conseguiria ter muito mais: afinal, a estrutura do futebol feminino hoje é muito desenvolvida do que nas décadas passadas.

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Preconceito, falta de apoio e estrutura

Na Copa do Mundo de 1991, as jogadoras passaram por inúmeras dificuldades para jogar por nossa seleção. Simplesmente não havia espaço para o futebol feminino, até então sempre cercado pelo sexismo e misoginia.

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Centenas de mulheres abriram mão da família e de empregos estáveis para apostar no sonho do sucesso e estrelato atuando no futebol. Tudo isso esbarrava na remuneração baixíssima e pouco reconhecimento.

Além da falta de estrutura, elas precisavam lidar com a própria saúde mental. A solidão e incertezas quanto ao futuro no esporte eram constantes para as meninas.

“Quem tinha parente no Rio ou em São Paulo aproveitava as folgas para ver a família. Mas quem morava na Bahia, ou no Rio Grande do Sul, por exemplo, não tinha muita opção. Ou gastava todo o dinheiro das diárias com passagens aéreas, ou permanecia na Escola de Educação Física do Exército”, conta Márcia Taffarel, prima em terceiro grau do ex-goleiro Taffarel, tetracampeão do mundo em 1994.

Márcia viveu uma realidade bem diferente do seu parente famoso, consagrado no futebol masculino.

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“Eu deixei o meu emprego na Fundação Bradesco pelo sonho de jogar uma Copa do Mundo. O que nós ganhávamos de diária não dava para nada. O meu salário no banco pagava o dobro, por exemplo. Optei por ficar na seleção por acreditar que, com a CBF envolvida, o futebol feminino pudesse ter mais investimento e estrutura, mas não foi o que se viu naquele momento”, disse a ex-meio-campista.

Ela foi uma das poucas jogadoras da primeira geração a seguir no futebol – mas nos Estados Unidos, onde a modalidade feminina é muito mais desenvolvida.

Atualmente, Márcia é treinadora das categorias de base do Walnut Creek Surf Soccer Club, na Flórida.

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Trajetória com muitos improvisos

Solange, outra jogadora da época da Copa da China de 1991, precisou usar e abusar do improviso enquanto esteve à serviço da seleção brasileira, época em que atuava como zagueira.

Relembrando de forma nostálgica os tempos como atleta, ela priorizou lembrar das dificuldades.

“Se perdíamos um jogo-treino, ficávamos pensativas quanto ao futuro. Nos esforçávamos muito, chorávamos pelo cansaço nos treinos. Para você ter uma ideia, a gente se alimentava com a mesma comida que era servida aos soldados. E essa dieta não é adequada para um atleta. E os uniformes então? Eram sobras do time masculino. Tinha menina que media 1,50m de altura e as camisas e shorts ficavam enormes. Chuteira, cada uma comprava a sua. Elas calçavam de 34 a 37 e os rapazes usavam a numeração de 40 para cima”.

Hoje, Solange trabalha como técnica na categoria de base do Bahia.

Pioneiras do futebol seguem firmes e fortes

Trinta anos depois de representar o nosso país na China, as jogadoras da seleção original seguem unidas por meio das redes sociais.

Elas costumam trocar mensagens e se falam com frequência por meio de um grupo do WhatsApp.

“Nós viramos uma família. E mesmo sem estar perto, torcemos muito umas pelas outras. Quando uma se dá bem, é felicidade para todo o grupo”, afirmou a zagueira Elane, que sempre que pode se encontra no Rio de Janeiro com as ex-companheiras de seleção Fanta, Pelezinha, Marisa e Fia para uma boa resenha.

“A gente até batia uma bolinha, mas a idade vai chegando e as dores vão aparecendo. Tenho que ter cuidado com a minha coluna, pois preciso trabalhar no dia seguinte”, brinca Elane. “Cheguei a ir a umas três reuniões e conseguimos juntar umas dez meninas”, revelou sobre o último encontro.

Fonte: O Tempo
Fotos: Reprodução / O Tempo

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