Se para nós, adultos, lidar com desafios como inveja, tristeza e solidão é complicado, imagine para quem ainda dá seus primeiros passos neste mundão. Com essas dicas, entenda como apoiar uma criança diante de situações tão difíceis quanto humanas!
Invista no acolhimento
Sentimentos desafiadores, como de perda, pedem cuidado. Ao dar uma notícia difícil, escolha um ambiente apropriado, em que o pequeno se sinta seguro. E use uma linguagem direta e de fácil compreensão. “Para as crianças menores, de 3, 4 anos, é legal trazer a questão do brincar, usar bonecos para representar as pessoas, contar uma história”, sugere Silvia Vasconcelos, psicóloga, especialista em comunicação não violenta, de Belém. Já para as maiores, a partir de 6 anos, você pode comentar sobre filmes que tenham aquela situação, desenhos ou livros.
Chame pelo nome
Muitas vezes a criança não saberá dizer o que está dentro dela. Pergunte a ela o que está sentindo e, então, nomeie. É raiva? Vergonha? Inveja? Isso ajudará o pequeno ou pequena a se expressar, o que diminui o impacto do desconforto. “Assim, a criança pode se organizar internamente”, diz Mariana Clark, psicóloga especialista em acolhimento e perdas. Essa também é uma forma de autoconhecimento: ao conferir um nome, ela vai, aos poucos, diferenciando um sentimento do outro e pode refletir, antecipadamente, sobre como reagir a cada um.
Olhe de frente
Após identificar o sentimento, explique sua definição e reforce que sentir-se assim é natural. “Ajuda muito se contar sobre você, dando exemplo de como lidou com isso antes”, diz a psicóloga Mariana Clark. No dia a dia, procure também nomear o que se sente. E reforce que primos, irmãos, amigos, todos têm aquele tipo de sentir. Assim, você encoraja a criança a lidar com seus desafios interiores, pois mostra que todos estão sujeitos a eles. “É importante desconstruir a positividade tóxica e explicar que esses sentimentos fazem parte da vida e vão aparecer”, diz Mariana.
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Fale durante e depois
Sempre que possível, converse sobre os desafios emocionais. Se estiver por perto, fale na hora ou logo após a situação difícil acontecer. Em uma briga no pátio do prédio, por exemplo, chamar a criança em um canto para saber o motivo da raiva, entender as razões da briga e compreender o que está em jogo. “Depois vale retomar a conversa para ensinar que aquele sentimento, assim como outros, que são agradáveis, é genuíno. Medo, raiva, alegria, felicidade: tudo faz parte da vivência”, reforça Silvia.
Nada mais que a verdade
Nunca recorra a mentiras. As crianças tendem a perceber e, com isso, se quebra um pacto de confiança entre você e ela. Em vez disso, ajude-a a entender como passar por aquilo. No caso de uma separação, por exemplo, explique ao pequeno que o pai e a mãe continuam sendo pais dele e que o amam. “Se oferecemos mentiras e silêncio a uma criança, estamos dando a ela desamparo e desconfiança. Ao passo que se oferecemos verdade e escuta, também oferecemos segurança e confiança”, diz Mariana Clark.
Respeite o tempo da criança
Às vezes, o pequeno não vai querer desabafar e nem se mostrará interessado em verbalizar o sentimento. Se for assim, dê um tempo, diga-lhe que estará disponível quando ele se sentir pronto para compartilhar. Ir para o quarto, ficar quieto e pensar no assunto são parte do processo de elaboração. Ainda sobre essa jornada de entendimento e aceitação: não reprima o choro da criança, as lágrimas ajudam a estabilizar o corpo e são uma forma de expressar o sentimento, um caminho para conseguir lidar com o desafio emocional.
Texto: Manuela Aquino
Ilustração: Isabella Magalhães
Conteúdo publicado originalmente na Sorria #83, em fevereiro de 2022.
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