O rio Atuba passa nos fundos da casa do vendedor Diego Saldanha, 33 anos, morador de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, e foi lá onde ele aprendeu a nadar na infância.
Nadar nas águas do rio hoje é algo que pertence à memória, pois o Atuba virou praticamente um depósito de lixo a céu aberto – tem de tudo que você possa imaginar! Mas se depender da ‘ecobarreira’ criada por Diego, esse tempo um dia pode voltar!
“As águas ficaram cada vez mais sujas e não havia mais peixes. O rio era limpo quando eu era criança, mas depois começou a ficar muito poluído”, conta. O rio cruza a capital paranaense, Colombo e Pinhais, onde se encontra com as águas do rio Iraí, formando o Iguaçu, que leva às famosas cataratas no extremo oeste do Paraná.
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Disposto a mudar essa realidade, e quem sabe um dia nadar novamente no rio Atuba, Diego decidiu limpar o trecho que passa perto de sua casa, pelo menos por enquanto, bem ao lado de onde moram os pais dele.
Pesquisando, ele encontrou maneiras simples, mas eficientes, de reverter a situação do rio. No início de 2017, Diego reuniu centenas de garrafas pet de dois litros em uma rede, criando uma barreira flutuante às margens do Atuba, unindo uma margem à outra: nascia a ecobarreira.
A geringonça retém todo o lixo carregado pela correnteza, impedindo que esses detritos circulem livremente corrente adiante.
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De início, a ecobarreira trouxe resultados modestos, mas com os ajustes certos, poderia ser mais eficiente. Foi exatamente o que Diego fez. “Comprei galões de 50 litros, usei uma rede de proteção mais forte e refiz a barreira”, conta. O vendedor afirma ter investido R$ 1 mil (investimento próprio) nos ajustes necessários.
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Desde que a ecobarreira foi construída, em janeiro de 2017, Diego estima ter retirado cerca de 3 toneladas de lixo das águas do rio.
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Pelo menos 90% de tudo que é recolhido são garrafas de plástico ou pedaços de isopor. Eventualmente, ele encontra brinquedos, bolas, capacetes… Já recolheu até um fogão, um sofá e uma moto, acredite!
Esses objetos dão uma boa ideia do descaso de algumas pessoas com os rios do país, tratados como se fossem lixões – literalmente.
Para o professor Antonio Fernando Monteiro, doutor em Ecologia e docente da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a situação dos rios é preocupante em função da poluição crescente que acomete a maioria deles.
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Dessa forma, a barreira criada por Diego é um instrumento importante de conscientização. “Quando um rio está sujo, fedido e com água cinza, as pessoas o enxergam como lugar de lançamento de resíduos e vão jogando tudo o que não querem mais. A limpeza que ele faz no Atuba, com a ecobarreira, mostra a importância de preservar o rio“, comenta.
Ecobarreiras semelhantes foram desenvolvidas em ao menos outras 10 cidades, como Recife (PE), Blumenau (SC), Araucária (PR) e Coronel Fabriciano (MG).
A ecobarreira
A ecobarreira conecta as margens do rio. À esquerda, a rede está fixada a uma estaca de ferro. À direita, a uma árvore.
A ideia é que os resíduos se acumulem apenas na parte esquerda, facilitando a retirada deles num segundo momento.
Normalmente, esse trecho do rio tem apenas um metro de profundidade. Em período de chuva, o nível da água sobe e a estaca se solta em direção à margem direita. “É uma forma de segurança, porque quando o rio fica cheio, começam a descer troncos e objetos maiores. Quando o nível da água abaixa, uso uma corda para puxar a estaca da barreira de volta para a margem esquerda.”
Diego afirma ter pensado em cada detalhe da ecobarreira por anos, enquanto observava a poluição cada vez mais presente no rio. “Quando cheguei à ideia do primeiro formato da ecobarreira, logo procurei os materiais para colocar em prática”, explica.
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Repercussão
Há dois anos, quando a ecobarreira começou a funcionar, Diego gravou um vídeo mostrando a iniciativa e o lixo recolhido, e publicou nas redes sociais. A repercussão foi imediata: 5 milhões de visualizações, tornando seu projeto reconhecido nacionalmente.
De lá pra cá, o vendedor tem dado palestras por todo o país, principalmente em escolas, onde fala sobre o assunto voluntariamente. Ocasionalmente, ele também participa de eventos em empresas.
O reconhecimento pela iniciativa também rendeu premiações a Diego. No ano passado, ele levou o “Prêmio Lixo Zero”, no Rio de Janeiro, com direito a troféu.
No início deste ano, foi o primeiro colocado no Prêmio “Pega a Visão de Empreendedorismo Popular”, em Goiás, e ganhou R$ 8 mil.
Pessoalmente, Diego se diz “honrado com as premiações”, mas lamenta o fato de seu projeto não receber apoio do poder público do Paraná. “Nunca recebi nem um obrigado. É um projeto que poderia ser ampliado pela prefeitura daqui. Poderiam também me ajudar a percorrer as escolas municipais para falar sobre a importância de cuidar dos rios. Mas nunca tive nenhum apoio”, lamenta.
Quer saber mais sobre o projeto? Você pode entrar em contato com o Diego através do seu perfil no Instagram e no Facebook ou ainda por e-mail ([email protected]) e telefone (041 99950-3974).
Com informações de Época/Fotos: Arquivo Pessoal