Na icônica canção de Renato Russo, lançada em 1986, Eduardo é um menino ingênuo e pouco afeito aos estudos. Já Mônica é uma mulher muito centrada, mais velha e a caminho de se tornar médica.
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Ao final da música, o casal cancela uma viagem porque o filho ficou de recuperação. Pois bem, as pessoas reais que inspiraram o artista em “Eduardo e Mônica” não são bem assim na vida real.
É engraçado notar que apesar do enorme sucesso da canção, que perdura nas mentes de jovens e adultos há quase 40 anos e ganhou até filme, pouca gente sabe que o casal da letra existe mesmo.
A faixa do Legião Urbana tomou como inspiração o relacionamento de uma das grandes amigas de Renato, a artista plástica Leonice de Araújo Coimbra, e seu marido, o embaixador Fernando Coimbra.
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Na distante década de 80, quando o vocalista compôs a faixa, Renato ligou para Leonice (algo que fazia com frequência) e mostrou a ela seu futuro hit e fenômeno musical, que era livremente baseado na vida dela.
“Sempre que ele compunha ele me ligava, ou ligava para outras amigas, para mostrar. E aí certa noite ele me ligou e disse que a música era para nós. Eu, honestamente, não estava nem aí naquele momento. Foi só com o tempo que eu fui reconhecer o tamanho do presente que ele, o melhor amigo que eu tive em toda a vida, me deu”, disse a artista plástica.
Na época, Leonice era uma pessoa reservada e não se imaginava protagonista de uma história de Renato Russo – daí a indiferença. Ao contrário da música, ela jamais estudou Medicina, nem era mais velha que Fernando. Além disso, ela considera o marido o verdadeiro “intelectual” do casamento.
A artista plástica e o embaixador hoje vivem no México, para onde se mudaram há alguns meses.
Para Nina Coimbra, artista e filha primogênita (que nunca ficou de recuperação) do casal, seu pai é o oposto do personagem Eduardo, que jamais poderia seguir na carreira de embaixador.
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“Na música o Eduardo parece um pouco bobo, ingênuo, e meu pai não é nada disso”, assegurou.
“Eu acredito que o Renato escreveu essa música idealizando um pouco a minha mãe -o que faz sentido, porque ele era mais próximo dela. Mas a energia da história, esse encontro de amor, isso realmente existe, porque eles são referência de um casamento bacana, são mesmo como feijão com arroz”, disse.
Leonice e Fernando conheceram Renato Russo nos anos 1980, em um centro acadêmico da Universidade de Brasília, onde o futuro embaixador cursava Antropologia.
O líder do Legião Urbana estava lá para tocar com sua banda e Leonice ficou hipnotizada pela performance. “Nós nos apaixonamos fraternalmente de cara“, diz ela.
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Em um segundo momento, eles foram trabalhar juntos para um jornal publicado pelo Ministério da Agricultura e, com o tempo, se tornaram grandes amigos.
Nos anos 1990, Leonice fez uma viagem com o marido para Nova York, onde encontrou o estúdio que haviam alugado e se deparou com Renato, recém-chegado à cidade, na porta, perguntado se poderia se hospedar com ele.
A surpresa não agradeceu ela de início, mas ao final, as férias na metrópole americana foram “bárbaras”, como ela mesma define.
O mais legal é que Renato Russo foi uma presença constante na vida de Leonice e de sua filha Nina, inclusive quando a família começou a mudar de um país para o outro, por causa da carreira de Fernando na diplomacia.
Renato sempre tentava se manter presente.
Naquela época, sempre que o telefone tocava, Nina já sabia: era o vocalista ligando para saber como estavam seus pais.
“Eu lembro de ter, durante a infância, essa noção de que o amigo da minha mãe era um pop star. E o Renato gostava disso. Quando estávamos no Brasil, ele ia nos buscar na escola, fazia tudo ser uma grande cena, com todo mundo enlouquecido. Ele gostava de estar entre crianças, receber esse tipo de afeto, de um público que dava uma atenção menos agressiva para ele”, relembrou.
As muitas viagens que Leonice e Fernando faziam, quase sempre sem data para acabar, motivaram o líder do Legião a escrever uma outra canção para a amiga: “Uma Outra Estação”.
Ali, ele canta que “está longe, em outra estação”. “Voltarás na terça-feira/ És fogo e gelo ao mesmo tempo/ E vai ser bom/ Do Equador, da Venezuela, do Uruguai/ Teremos o fim de semana só para nós”, compôs. À época, a amiga morava em Quito, a capital do Equador.
Mais de 25 anos depois do falecimento de Renato, Leonice, 63, se lembra do amigo com absoluto carinho. Em sua visão, ele foi um segundo amor de sua juventude – um amor fraterno, de melhores amigos, ao passo que Fernando foi seu primeiro amor, um amor romântico e de construção de uma vida.
Em suas lembranças, guarda os relances de uma pessoa incrivelmente culta e também muito generosa que nos deixou muito cedo, aos 36 anos.
Ao lado de Fernando, a relação permanece firme e forte há incríveis 42 anos, desde que eles se conheceram em rodas de conversa e festas universitárias.
Leonice se disse ansiosa para ver “Eduardo e Mônica” nos cinemas, apesar de não ter se envolvido no projeto (Nina fez uma participação especial). “Eu certamente vou ficar emocionada, mas mais pelas lembranças do Renato. Ele certamente teria adorado, ia palpitar para caramba, talvez até quisesse dirigir”, brincou.
“No fim, não tem a menor importância se essa história tem a ver ou não comigo. Eu não quero soar clichê, mas a verdade é que o importante mesmo é entender que nós nada seríamos sem amor. ‘Eduardo e Mônica’ fala de uma história que deve se repetir aos montes por aí, e eu fico muito honrada de a ter motivado de alguma forma.”
Ouça à música:
Fonte: Aventuras na História
Fotos: Arquivo pessoal
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