Há dez anos, numa tentativa de passar mais tempo com o filho Felippe, que tem síndrome de Down, a fotógrafa Sandra Reis começou a levá-lo aos espetáculos de dança que registrava profissionalmente. “Colocava a câmera na mão dele, dava algumas dicas sobre luz e enquadramento e então pedia que fizesse o making of”, conta.
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“Em duas horas de apresentação, ele tirava apenas dez fotos, mas as imagens eram perfeitas.” Dois anos depois, inspirada pelo talento do filho, ela criou a Galera do Click, escola de fotografia gratuita para pessoas com Down ou deficiência intelectual.
Em 2013, o grupo tinha vinte participantes e contava com três câmeras fotográficas. “Depois que eu me separei, em 2014, as contas começaram a pesar”, diz. “Meu trabalho não era suficiente para manter as minhas despesas e a escola. Cheguei até a pensar em fechar, mas eles dependem de mim para trabalhar.”
Ajuda na socialização
No ano seguinte, Sandra decidiu criar uma ONG para tentar captar recursos, mas não teve sucesso. A saída foi começar a oferecer o projeto como negócio social aos contratantes. Em 2018, graças à divulgação na mídia e à participação em programas de TV, a procura quadruplicou. Nesse meio-tempo, ela construiu uma parceria com a Roche, empresa farmacêutica, e com o São Paulo Futebol Clube.
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“O apoio deles foi fundamental para que conseguíssemos oportunidades e visibilidade.” O grupo já viajou para diversos estados para cobrir festas e eventos realizados por quarenta empresas. A cada cobertura, ela leva no mínimo dois alunos, além de um monitor para cada dupla.
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A fotógrafa, que também é mãe de Karoline, 32, e Rogério, 27, entende que a formação de grupos voltados a pessoas com Down ajuda na socialização de crianças e jovens. E afirma que vivenciou a dificuldade do filho para se enturmar na infância e na adolescência. “Na escola, ele era bem tratado, mas, diferentemente do que acontecia com os irmãos, não recebia convites para as festas, a menos que eu fosse junto.” A família, no entanto, sempre o estimulou a desenvolver suas aptidões e a vencer seus limites. “Felippe é o primeiro judoca faixa preta no estado de São Paulo com deficiência intelectual, e já foi até representar o país no exterior.”
Como as pessoas com Down tendem a ter imunidade mais baixa, tornando-se grupo de risco para a covid-19, as aulas da Galera do Click passaram a ser on-line desde março de 2020. E os eventos foram suspensos. Mas o sentimento permanece de união, mesmo a distância. “Desse grupo surgiram várias amizades, sem contar que as famílias se sentem acolhidas e podem dividir experiências sobre as necessidades dos filhos”, diz Sandra.
Paixão pela fotografia e novos amigos
Ao falar da Galera do Click, a fotógrafa Manuela Macedo Pires Esteves, 22 anos, não consegue conter a emoção. Há dois anos, ela começou a frequentar a escola e, em pouco tempo, foi chamada para participar do grupo que acompanha Sandra na cobertura de eventos. “Minha irmã viu o projeto num programa de TV e me falou. Fiquei bastante interessada e pedi para participar”, diz.
Manuela, que não vê a hora de as aulas presenciais voltarem, adora fotografar flores e paisagens e criou até uma conta no Instagram para compartilhar seus registros, que fazem muito sucesso. Sua mãe, Maria da Paz de Macedo Esteves, 62, afirma que Manu ganhou autonomia, fez novos amigos e se apaixonou pela fotografia desde que começou a frequentar as aulas.
“Nos eventos, ela ficava o dia todo fora, e aprendeu a se virar sem mim”, conta Maria. Em seu último aniversário, Manu ganhou uma câmera dos pais. Agora, seu maior desejo é ter condições financeiras para poder viajar com a família quando der. “Para isso, ela guarda todos os cachês que recebe – não gasta nem um centavo”, afirma Maria.
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Texto: Melissa Diniz
Foto: Marcus Steinmeyer
Conteúdo publicado originalmente na TODOS #37, em maio de 2021.
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