Era um dia de 1992 quando um garoto voltada da igreja com a sua mãe e irmã. No caminho ele viu uma caixa repleta de brinquedos e um único livro: “Dom Gatón”, da Coleção Peteleco. Guardou o exemplar e seguiu para casa. Hoje, 2021, aquele mesmo garoto cresceu e se tornou o vencedor do principal prêmio literário do pais, graças ao livro que encontrou em sua infância.
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Otávio Júnior é cria da Favela do Alemão (RJ) e foi de lá que ele tirou inspiração para o “Da Minha Janela”, que acaba de receber o Prêmio Jabuti 2020, na categoria ‘Livro Infantil’.
A obra traz a história de um garoto que mora na favela e que ao abrir a sua janela enxerga alegria, pluralidade, bichos, cores e a realidade dos seus semelhantes. Além da sensibilidade deixada por Otávio, o livro conta com cores e movimentos das ilustrações de Vanina Starkoff, deixando-o ainda mais lúdico e especial.
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Literatura e realidade
A história de Otávio é fictícia, mas ele não esconde a sua inspiração: a comunidade onde cresceu.
O garoto do livro tem uma vista colorido e repleta de alegria, que Otávio descreve como sendo uma lembrança forte da sua infância na Favela do Caracol, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio. A narrativa também traz brincadeiras comuns para crianças das favelas como empinar pipa, rodar pião e jogar futebol.
Assim como o personagem, Otávio não tinha acesso à leitura até os seus 8 anos de idade, quando encontrou o livro no lixo. Aquele foi o primeiro passo para a sua vida literária.
Otávio diz que o livro é uma espécie de amuleto que, inclusive, ele guarda com carinho até hoje! Foi a partir daquela leitura que o autor começou a buscar bibliotecas da comunidade. Mais tarde, se tornou contador de histórias, ator, produtor teatral e escritor.
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Projetos para a comunidade
Vendo que a literatura lhe abriu diversos caminhos, ele pensou diversas maneiras de democratizar a leitura na favela.
“A partir da literatura infantil eu coloco personagens moradores de favela em posição de destaque e também mostro que existem questões de violência. Que esse é um território que não tem investimentos [nas] questões de saneamento básico, arquitetura e iniciativas voltadas ao meio ambiente“, conta Otávio.
Ele então criou o ‘Ler é 10 – Leia Favela’, um projeto itinerante que leva livros para outros pontos da Penha e do Alemão. Otávio também criou a ‘Barracoteca’, um espaço de leitura no morro do Caracol, e o projeto ‘Favela Lúdica’, como pesquisador na área de educação.
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“Eu sou um ativista da literatura. A minha figura é bem importante para pensar em estratégias para democratizar os livros nas favelas. Não adianta eu pensar em muitas histórias e ganhar prêmios, se as pessoas da minha família e da minha comunidade não tiverem acesso ao que eu escrevo, aos clássicos nacionais, americanos e universais. O propósito de implementar esses projetos em favelas vizinhas foi o de compartilhar histórias.”, explica.
Prêmio
Devido a pandemia, a cerimônia do Prêmio Jabuti aconteceu online, em novembro do ano passado.
A jornalista Maju Coutinho foi quem apresentou a premiação com transmissão ao vivo pelo Facebook e YouTube da Câmara Brasileira do Livro.
A organização do prêmio declarou que muitas obras escolhidas quebram alguns padrões. Essa se tornou umas das edições mais diversificadas do Prêmio Jabuti e trouxe muitos exemplares que abordam questões sociais, como luta antirracista.
Otávio publicou sobre o prêmio em seu perfil no Instagram e acha que 2020 foi um ano para ser pensado, refletido e lembrado.
Veja
Se ele acha que foi longe? “Não. Ainda falta muito”, avisa. “Quero trazer o melhor da tecnologia educacional para as crianças das comunidades”, planeja Otávio.
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