Ex-morador de rua se torna escritor e lança livro com auxílio de vaquinha online

0
2917
Ex-morador de rua se torna escritor e lança livro com auxílio de vaquinha online

Leo Motta, 37 anos, transformou em livro suas experiências vivendo nas ruas do Rio de Janeiro. Ex-dependente químico, ele conta sua história no livro “Há vida depois das marquises”, lançado no dia 18 de janeiro no Espaço Templo, em Botafogo.

PUBLICIDADE

CONTINUE LENDO ABAIXO

“As pessoas pensam que quem está na rua, está porque quer e que nunca vai sair,” diz Leo em um trecho da obra.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, no bairro Cordovil (Zona Norte), o escritor começou a usar cocaína ainda na adolescência, quando tinha 17 anos. Tornou-se morador de rua em junho de 2016, após sofrer uma overdose na frente da própria mãe. Ele conta que não conseguia se manter em um trabalho por mais de dois meses porque o vício era muito forte.

“Não queria causar mais dor a quem eu amava. Pensei assim: se eu vou sofrer, eu sofro sozinho”, relembra.

Leo foi morador das ruas da capital por seis longos meses, assim como outras 14.279 pessoas contabilizadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos em 2016.

PUBLICIDADE

CONTINUE LENDO ABAIXO

Num calor quase sempre torturante, no qual o Sol não perdoa, tampouco a criminalidade, o escritor conta que a “rua é uma casa difícil”. Viver sem saber para onde ir, com escassa alimentação e sem o luxo de poder tomar uma água gelada em meio à uma tarde escaldante – a fome de cada dia era saciada quando alguém se sensibilizava a pagar um lanche.

Quando um bem-feitor não surgia, a comida vinha de restos encontrados em latas de lixo. Muitas vezes o melhor que havia ali eram biscoitos mofados e fedidos empurrados para dentro do estômago vazio.

Ex-morador de rua se torna escritor e lança livro com auxílio de vaquinha online
O escritor Leo Motta posa em frente ao Museu do Amanhã, onde dormia. Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Talvez algo pior do que sentir fome sede é o tratamento de quem vive na rua recebe das demais pessoas. Leo relata que certa vez foi à uma padaria em Copacabana e pediu um pão para uma mulher.

Muito pior do que receber um “não” foi a reação da pessoa. “Ela não me disse nem que sim, nem que não. Só cuspiu no meu rosto e saiu.”

PUBLICIDADE

CONTINUE LENDO ABAIXO

Não obstante, um dia pediu água em um restaurante. Lhe deram um copo cheio. Ao beber, sentiu um gosto horrível e forte: tinham lhe dado água com sal. Enquanto isso, garçons e clientes riam debochadamente de sua situação.

Leia tambémCachorros “apreensivos” esperam morador de rua ser atendido na porta do hospital

De noite, na hora de dormir, nada de sossego. Sem paz. Rondava-lhe o medo de ser agredido por estranhos, impossibilitando-o de dormir. Noites em claro.

Para ao menos tirar um cochilo, contava com a ajuda de um companheiro de rua, que vigiava as ruas enquanto dormia, num esquema rotativo.

PUBLICIDADE

CONTINUE LENDO ABAIXO

Refugiavam-se nos entornos do Museu do Amanhã, ou no Cemitério do Caju. Entre os túmulos, os dois amigos encontravam um momento de descanso. Com sorte, conseguiam abrigo em um dos 35 albergues e hotéis administrados pela prefeitura municipal.

Das marquises às páginas

Seis meses longe de casa, vivendo nas ruas, e a dependência de Leo havia piorado. Em dezembro de 2016, em meio à uma ação social promovida na Lapa, o rapaz teve o primeiro contato com a Associação Solidários Amigos de Betânia (ASAB), uma instituição ligada à Igreja Católica e parceira de atividades de cunho social com a Prefeitura.

O ASAB acolhe pessoas em situações de vulnerabilidade e em condições de rua, buscando ressocializá-las junto à comunidade. Leo viu na associação uma última chance para largar o vício, já que havia se afastado da família e não tinha conseguido se adaptar aos abrigos da prefeitura.

O escritor acabou se mudando para um sítio mantido pela organização, onde passou a ser acompanhado por psicólogos e assistentes sociais. Após sete meses, já livre da dependência química e do vício, ele voltou às ruas – não mais para morar, mas para trabalhar, tornando-se voluntário do Projeto Ruas, ONG que procura pessoa em situações de rua de modo a encaminhá-las para a assistência social ou centros de reabilitação (se o desabrigado for dependente).

Uma amiga de Leo sugeriu que ele usasse o Facebook para contar suas experiências e história de vida. Inspirado pela ideia, criou a página “Há vida depois das marquises”, que acumulou 26 mil seguidores. O sucesso o fez escrever o livro homônimo.

Leia tambémPolicial faz a barba de morador de rua para ele conseguir emprego

Leo então montou uma vaquinha online para custear a publicação dos livros, arrecadando 60% do que precisava. O valor restante foi coberto com doações de amigos e com o seu salário de atendente em um restaurante na Barra da Tijuca. Deu certo.

Sóbrio há mais de dois anos, o escritor deixou o emprego de atendente para abrir seu próprio restaurante no Centro do Rio junto de seu irmão Wendel. Além disso, dá palestras motivacionais.

Sem dúvidas um final feliz na história do escritor aspirante à chef, que conclui dizendo que não existe problemas sem soluções.

“Muita gente acha que um morador de rua não tem jeito, mas tem. A gente só precisa de oportunidade, apoio psicológico e atenção.”

Compartilhe o post com seus amigos!

  • Siga o Razões no Instagram aqui.
  • Inscreva-se em nosso canal no Youtube aqui.
  • Curta o Razões no Facebook aqui.

Fonte: Extra

Quer ver a sua pauta no Razões? Clique aqui e seja um colaborador do maior site de boas notícias do Brasil.