Alunos nota 1000: jovens surdos tiram nota máxima no Enem e entram na universidade

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Toda vez que tem o Exame Nacional do Ensino Médio, temos uma nova leva de memes e de zoeira por conta dos absurdos escritos nas provas. Indo na contramão da brincadeira, dois jovens surdos tiraram nota máxima no Enem 2016 e conseguiram entrar na universidade. Bernardo Manfredi e Rodrigo Andrade, do Rio de Janeiro, passaram com 1.000 na redação.

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Os estudantes com deficiência auditiva, de 19 e 17 anos respectivamente, são agora futuros filósofo e psicólogo. Bernardo passou na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na PUC, enquanto Rodrigo foi aprovado na Universidade Federal Fluminense e no Mackenzie. Eles estão entre os 77 candidatos que tiveram a nota máxima em redação, com o tema: “caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”.

Segundo uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo, Bernardo teve uma infecção grave ainda bebê numa maternidade de Cabo Frio, resultando em cirurgias, surdez severa em ambos ouvidos, disgrafia profunda (dificuldade na escrita) e transtorno psicomotor nas mãos e nos braços. A vida já não começou fácil para ele, e ao longo da trajetória escolar, em unidades públicas com pouca ou nenhuma estrutura, ficou mais difícil ainda.

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Os obstáculos foram superados a cada dia e ao chegar no 9º ano, conseguiu bolsa para estudar em colégio particular. Com apoio da mãe, atenção redobrada dos professores e auxílio de um aparelho auditivo, conseguia acompanhar as aulas, fazendo também a leitura labial. A prática de redação no último ano resultou não só em 130 textos, mas também na nota mil no Enem.

Rodrigo, o futuro psicólogo, foi vítima de uma meningite e perdeu a audição aos 5 meses de idade. Desde o maternal estudou em escola particular e teve apoio não só da família e dos professores, como também de uma fonoaudióloga e de um equipamento com frequência modular, usado nas aulas em 2016. Leitor assíduo, sempre foi próximo das palavras e também faz leitura labial, além de usar aparelho auditivo.

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Site O Globo reproduziu a redação do jovem.

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Redação de Bernardo Manfredi, nota 1000 no Enem 

Sob o olhar das raízes

O Brasil é mundialmente reconhecido por sua diversidade religiosa. Ao longo da sua formação e com as influências externas e internas, o país tornou-se um grande exemplo de miscigenação, evidenciando a sua riqueza cultural. Porém, apesar desses fatos, o Brasil sofre com um grave problema de intolerância religiosa, formado pelo reflexo de uma filosofia etnocêntrica marcada nas raízes da sociedade brasileira. Como combater esta realidade que implica na harmonia?

Primeiramente, é preciso entender que a intolerância religiosa começa na educação, ou seja, na falta de conhecimento das religiões. As famílias costumam seguir as religiões tradicionais, no caso o cristianismo, e adotam uma filosofia etnocêntrica. Essa adoção é influenciada por preconceitos históricos, como racismo, e baseada num processo radical de “cristianizar” o Brasil. A partir disso, todas as outras religiões são consideradas inferiores e acabam sofrendo um total desrespeito, sendo vítimas de violência.

Além disso, é necessário analisar o choque entre o Estado laico e o conservadorismo social. Apesar de o cidadão ser constitucionalmente livre para escolher sua religião, os conservadores (muitos deles políticos, padres e pastores) obrigam que tal indivíduo siga o ritual referente, e pior, pregando atos fundamentalistas e modificando a conduta dos fiéis. Há também uma silenciosa mistura de política com religião, fazendo instensificar a intolerância por meio de discurso preconceituoso e desmoralizador que afeta o olhar para as diferenças e o convívio entre elas.

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Diante desse grave cenário é possível compreender que a intolerância religiosa no Brasil está enraizada e deve, portanto, ser combatida. É necessário implantar o ensino de religião em todas as escolas de fundamental e médio formando os jovens dotados de conhecimento sobre a diversidade religiosa no país e assim ajudar a combater a intolerância. Além disso, deve-se criar ONGs de parceria com o Estado e a Unesco, fazendo valer a laicidade e fornecer projetos culturais que influenciem um novo olhar das pessoas, entendendo melhor as diferenças, e assim combater o radicalismo que tanto prejudica a harmonia da sociedade.

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Bernardo e sua mãe, a artista plástica Carmem Terezinha Piñon – Divulgação

Agora rumo à faculdade, meninos, porque o mundo precisa de profissionais com essa garra!

Foto de capa: Arquivo pessoal / Com informações O Globo / Estadão

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