A história parece mais um enredo de filme, mas é um caso real. Eduardo Honorato adotou um filho, não conseguiu a licença paternidade. Entrou na Justiça e conseguiu seis anos depois. E, no fim, acabou pedindo o advogado da causa em casamento.
“Eu nunca quis ser pai“, disse Edu. Mas felizmente ele disse sim a esse chamado da paternidade, e se tornou um excelente pai. A família mora em Manaus (AM).
Eduardo conheceu aquele que viria a se tornar o seu filho através de uma pessoa conhecida da família. Psicólogo que é, logo ele percebeu que o desenvolvimento do garoto não era o adequado para a idade.
Edu começou a buscar vários especialistas para avaliar o menino. “Foi aí que depois de algumas semanas veio o diagnóstico de Lesão cerebral com hemiplegia. Isso significa que ele não tinha movimentos do lado direito do corpo. Meu mundo desabou e eu não conseguia pensar mais em nada“, conta.
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Mas Edu encontrou ainda mais motivos para lutar por aquele garoto. Começou a estudar para passar em um concurso público e passar no doutorado. “Meu foco era trabalhar ao máximo para poder pagar os melhores tratamentos que ele poderia ter“, disse.
E ele conseguiu. Se tornou psicólogo concursado e professor universitário. “Então, resolvi dar entrada no processo de adoção. Já haviam se passado alguns anos e realmente era o momento”, disse.
Edu conseguiu guarda legal do filho, mas não ganhou licença paternidade
Edu se tornou oficialmente pai. “Assim que saiu a guarda dele, eu fiquei tao feliz, mas tão feliz que não cabia mais em mim. Finalmente ele teria meu nome, poderia viajar comigo, e ter todos os direitos como meu filho. Fiquei em êxtase”, disse.
Já que ele era legalmente pai, nada mais justo. “Na minha inocência [pensei que] eles me dariam os seis meses, pois eu era pai solo e todos sabiam do meu caso. Me avisaram que receberia apenas 15 dias. Eu chorei de tristeza e de decepção e isso era visível no meu olhar“, contou.
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Foi nesse mesmo período que Edu conheceu o advogado Paulo. “Um dia ele me viu chorando e me explicou que o direito não era meu mas sim do meu filho. E do nada ele disse que entraria na Justiça pra garantir o direito da criança porque isso não era justo”, relembrou.
A lei de 1970 fazia distinção de gênero e não autorizava a concessão do direito. Foram incríveis seis anos de luta, apelos, recursos. “Eu chorava cada vez que recebia uma resposta ruim e ele não me deixava desistir. Aquilo motivava ele mais e mais a entrar com novo recurso”, disse Edu.
Eis que seis anos depois, estava concedida a licença paternidade. “Eu confesso que desabei em choro. Abracei meu filho, chorei e esperei o Paulo chegar. Choramos juntos e aí começamos a entender a real simbologia disso“.
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Edu e Paulo se casaram após sentença
Quando Paulo entrou com o pedido da licença paternidade na Justiça, ele e Edu tinham acabado de iniciar um namoro. Depois de todo o processo, em 2019, quando saiu a sentença, Edu pediu o advogado em casamento. O casal e o filho adotivo se tornaram uma grande família.
“Com o passar dos anos o nosso relacionamento foi ficando cada vez mais sério até que em 2019 eu pedi ele em casamento. O casamento aconteceria dia 06 de julho desse ano em uma viagem com toda as nossas famílias. Tudo organizado e a pandemia chegou. Casamos somente eu e ele no cartório, de máscaras, no dia planejado”, disse.
Filho de Edu precisou passar por tratamento severo
Depois de tudo isso, Edu e o filho não puderam desfrutar ainda do benefício porque o garoto precisou passar por um tratamento de três meses em Brasília que consistia em engessar a perna toda semana de uma forma diferente e ficar deitado por um mês em um quarto de hotel. Logo em seguida veio a pandemia.
“Ele tem limitações apenas físicas. Estimulei muito desde pequeno com tudo que havia de disponível. Não há qualquer sequela intelectual e ele está adiantado na escola”, disse Eduardo. O “tio” Paulo tem ajudado bastante nesse processo de acompanhamento do menino.
Edu quer que outros pais solo tenham o mesmo direito garantido
O mais especial dessa conquista é que ela abre precedente para outras pessoas na mesma situação conseguirem a licença paternidade.
“O que eu aprendi, lutando pelo direito do meu filho, é que ninguém, nem pessoa física nem jurídica, pode jamais nos privar dos nossos direitos e não podemos deixar isso acontecer. As leis precisam ser atualizadas e abarcar todas as novas configurações familiares“, disse.
Edu tinha um amigo na mesma situação e sempre pensou nele ao lutar por esse direito. “E que todos que tenham a DISPONIBILIDADE afetiva e emocional para essa jornada fantástica que é a paternidade, se joguem de cabeça nesse sonho porque vale muito à pena”, finalizou.
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