A diretora que conta histórias de pessoas com ideias transformadoras nas periferias de SP

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mulheres acreditam

A série especial do Razões ‘Mulheres que Acreditam’ vai ouvir histórias de mulheres que nos inspiram com seus trabalhos, sonhos e ideias.

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A primeira personagem da série é a Ana Carolina Martins, 31 anos, diretora do filme Visionários da Quebrada. Ana traz no filme uma visão original e potente das periferias de São Paulo.

Mulher empreendedora, lidera o Lab Visionária. O superpoder dessa super-mulher é a oralidade. As pessoas ficam impressionadas com a sua oratória e como organiza pensamentos complexos, e consegue falar de coisas “acadêmicas” de uma forma que aproxima as pessoas!

O engraçado é que, apesar de ser tagarela e falar bastante em público, se considera tímida, principalmente quando o assunto é paquera! Tem uma coisa com casa – gosta de casa de vó – e na dela também é assim: serve bolo e chá, aliás, adora receber as pessoas, e quem chega por lá se depara com ervas e plantas pra todo lado.

“Uma alma de vó e uma mente futurista!”

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A seguir, Ana conta mais sobre sua trajetória pessoal e profissional, e também responde sobre o “acreditar em si”, com grandeza, beleza e assertividade:

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Trajetória: dela e por ela

Fui uma jovem apoiada por organizações sociais desde a infância, tive algumas oportunidades que fizeram a diferença na minha vida como bolsas de estudos em línguas e cursos técnicos. Minha formação foi em marketing e minha trajetória passa por diversos desafios no mercado de trabalho, onde por mais que eu tivesse uma excelente performance e habilidades destacáveis, sempre estava faltando algo, sempre nos falta currículo, nome, intercâmbio, indicações.

E depois de muito tentar me encaixar nas carreiras lineares, decidi a partir do exemplo de outras pessoas, ser empreendedora. Nesta fase de autoconhecimento pude perceber que a falta de outros exemplos, outras biografias que poderiam me inspirar e dar direção ao longo da minha vida, me fizeram muita falta na construção de futuros possíveis e novos imaginários. E me fez demorar muito para conseguir ser a minha melhor versão e colocar o que acredito no mundo.

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Após um longo processo de transição de carreira que durou aproximadamente 2 anos, eu cheguei na pesquisa que resultou o documentário. E após esta realização ficou muito nítido toda capacidade de mobilização, criatividade, gestão e tantas outras habilidades necessárias para realizar um filme. E conforme o reconhecimento deste trabalho, foi vindo mais força, coragem e oportunidades de negócios para que começamos a desenhar um modelo de negócio social. A Visionária é um Lab de conteúdo e conhecimento popular. Acredito que nossa missão nesse momento é criar novas formas de comunicar e se relacionar… E depois dessa experiência e metodologia criada, resolvi dar esse passo e assumir minha herança, mulher negra empreendedora!

O seu filme fala sobre o acreditar. O que você “visionou” quando fazia o filme?

O que foi “visionado” com esta pesquisa é sobre buscar novas referências, novas biografias, aprender a escutar histórias como exercício formador de identidade, a partir de exemplos e práticas vivas, no lugar onde menos se espera.

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inovação e criatividade nas periferias de SP

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O chamado era sobre a reconexão com a ancestralidade, não como algo que estava no passado, mas sim no presente, aprender com pessoas que produzem tecnologias sociais diariamente para melhorar a própria vida e de seu entorno. Mostrar que a transformação que está sendo construída nas margens é o que precisa ser o centro das pautas de inovação.

https://www.facebook.com/visionariosdaquebrada/videos/533344193817849/

(**faça um convite pra Ana e a galera do filme fazer uma exibição na sua cidade ou quebrada aqui)

Qual a melhor forma de honrar sua história?

Acredito que o grande desafio da prática de relações afetivas e profissionais que sejam mais plurais é a escuta ativa e empática. Faço muitas palestras, participo de eventos, dou entrevistas, mas o que sempre me deixa muito assustada é o quanto as pessoas se apegam a narrativas de tristeza e superação quando se trata de pessoas negras e periféricas.

Como se todo o resto da nossa história fosse sempre apagada e sem valor algum. Isso reforça um lugar pra nós no mundo que não é verdadeiro! Acredito que o maior desafio é poder ouvir uma história e conseguir captar sua complexidade e o trabalho de um narrador é se relacionar com esta história e ser fiel não só aos seus interesses. E isso passa por uma profunda transformação do olhar para si e para outro, uma história que não contribui para valorização das pessoas e para o fortalecimento da dignidade humana é uma história que serve a quem?

No que você acredita?

Que as pessoas têm o poder e que elas precisam acreditar em si e ter referências para construírem novas formas de ser no mundo. Acredito que as histórias têm uma grande influência no modo em que pensamos e somos, por isso trabalho para construir novas narrativas, novas histórias que transformam pelo poder de serem contadas.

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Ana trabalha para que mais pessoas reconheçam suas potências e se vejam como visionários e visionárias

Como você trabalha isso no dia a dia?

No dia a dia, após lançamento do documentário, entendemos que criamos uma linguagem e uma metodologia capaz de criar conteúdos relevantes de uma forma diferente, de dentro pra fora, a partir de nossas vivências, capaz de registrar e contar histórias que valorizem as pessoas.

Ainda seguimos também com estratégias para ampliar a distribuição do documentário em espaços socioculturais, através de debates, oficinas e rodas de conversa sobre o que é Ser um transformador ou empreendedor social. Como educadora e comunicadora trabalho para que mais pessoas reconheçam suas potências e se vejam como visionários e visionárias nas periferias de SP.

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Você acha que as mulheres acreditam diferente?

Sobre o quê as mulheres acreditam, já daria um outro filme! Acredito que as mulheres, sobretudo as mulheres negras, vivenciam as mais diversas dores que carregam apenas por existirem. E quando conseguimos mesmo com todas as adversidades “honrar a nós mesmas e amar nossos corpos”.

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Isso por si só é de uma grande potência, transformamos o mundo a cada passo que damos em direção do futuro, tudo isso para que a vida continue pulsando em nós e deixar um legado melhor para outras mulheres e transformamos essas dores em arte, cultura, moda, acesso, educação, tecnologia entre tantas outras coisas. Somente alguém que vivência todas essas opressões é capaz de propor soluções reais para os mais diversos problemas que atravessamos neste momento.

Acredito que as mulheres estão cada vez mais acreditadas de sua capacidade de promover mudanças a partir de si e resgatando valores importantes para uma vida saudável em sociedade e comunidade. O que é preciso é que mais pessoas também acreditem nas mulheres, no olhar e na sabedoria que trazemos por nossas experiências.

Há muitas razões para nos acreditar, somos cíclicas e nossas expressões são parte da natureza humana, temos uma grande capacidade criativa, mobilizadora e sobretudo intuitiva que me faz acreditar que as mulheres são peça-chave para mover uma revolução no mundo que vivemos, abrindo uma perspectiva de novos caminhos.

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Ana Carolina é a representação perfeita das histórias que somente por serem contadas, transformam. Porque nos fazem acreditar. Somos humanas, e somos nós mesmas que mais podemos “visionar” e traçar a transformação que desejamos, pra nós e pro mundo. E como diz a obra do filme: “O nosso mundo tem urgências demais pra que mudar o mundo seja o privilégio de poucos”.

Acompanhe todas as publicações da Série Mulheres que Acreditam aqui.

*ilustrações de Amanda Favali/foto destacada: Reprodução/Facebook Visionários da Quebrada

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