Em Goiás, mulheres quilombolas transformam plantas do Cerrado em remédios e cosméticos

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Desde criança, quando acompanhava a rotina de trabalho da mãe na roça, Dirani Francismo Maria, 55 anos, produz e vende óleos de coco que servem como principal fonte de renda da família. Ela é moradora do Quilombo Kalunga, no nordeste goiano.

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Assim como a mãe, Dirani derruba os cachos do cocô indaiá, espécie típica do Cerrado, recolhe os frutos do chão e extrai o seu óleo para venda. Trata-se de um conhecimento passado de filhas para netas, de geração em geração.

O que muda em relação a 30 ou 50 anos atrás é que o trabalho destas mulheres se profissionalizou, ganhando ares um pouco mais modernos.

mulheres quilombolas transformam plantas do Cerrado remédios cosméticos
Hoje, mais de 650 mil famílias se declaram parte dos povos tradicionais do Brasil, como os quilombolas. Foto: Fábio Tito/G1

Mulheres kalungas quilombolas

No território kalunga, Dirani e outras 10 mulheres fundaram a marca Mães de Óleos, que comercializa os produtos feitos com recursos naturais do rico Cerrado goiano.

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A iniciativa é apoiada pela rede Articulação Pacari, formada por 18 organizações comunitárias de mulheres do Cerrado. A rede identificou um grande potencial de venda de óleos de pequi, mamona e tingui, além da pimenta de macaco, da polpa do coco indaiá e de remédios feitos de raízes naturais, entre outros produtos confeccionados pelas mulheres kalungas quilombolas.

Trabalhando em conjunto, elas desenvolveram a logomarca e rótulos de cada um dos produtos, adequando-se às necessidades do grupo, como a falta de alfabetização. “A gente viu a importância de colocar o desenho do produto que elas estão vendendo em cada rótulo. Por exemplo, no óleo de mamona, ter a mamoninha desenhada”, contou Jaqueline Evangelista, coordenadora executiva da Articulação Pacari.

Em seguida, o passo seguinte foi conectar as mulheres com feiras de cidades próximas, como Alto Paraíso (GO), município próximo à Chapada dos Veadeiros. A ideia é vender os produtos diretamente, sem intermediadores.

“Com o óleo de coco você pode fritar um ovo, pode botar no cuscuz, pode botar no feijão, fazer qualquer coisa com ele. É bom para a pele e para o cabelo também.”, diz Dirani.

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Foto: Fábio Tito/G1

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As embalagens mais elaboradas resultaram no aumento das vendas. Estão disponíveis potes de vidro com 50 ml de óleo de pequi ou coco indaiá por cerca de R$ 10 e de mamona pelo mesmo valor contendo 30 ml.

“É notório que a embalagem ampliou a identidade dos produtos enquanto povo e enquanto identidade de origem. Acho que é importante a gente pensar que, se aumenta a comercialização, aumenta a autonomia delas”, disse Jaqueline.

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Neuza Fernandes da Cunha, 49 anos, outra quilombola participante do projeto, afirma ter todos os recursos necessários para a fabricação no quintal da sua casa.

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Experiente, ela conhece o ciclo e a época de cada planta, como o pequi, que frutifica no fim do ano. “A gente já tem que pegar e guardar, senão vai ficar sem ter ele, eu ainda tenho do ano passado que eu peguei”, conta Neuza.

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Foto: Fábio Tito/G1

Neuza afirma que a venda dos produtos das Mães de Óleos complementa uma renda que antes vinha dos plantios. “Eu mais meu esposo nunca tivemos salário, a gente trabalha só de roça.”

Graças à nova atividade, Neuza e o marido tem criado os oito filhos com mais qualidade de vida. Hoje, três filhos chegaram à universidade, diz ela, toda orgulhosa. “Desde os 5 anos que eu trabalho. Ó minha mão, cheia de calo, socando coco, socando coisa. Tirando óleo todo dia”.

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Foto: Fábio Tito/G1

Vivendo na roça desde criança, a quilombola afirma que a vegetação recuou bastante ao longo dos anos. “O pessoal colocava muito fogo. Hoje já melhorou mais porque tem o pessoal do Prevfogo, do Ibama.”

Ela conta que o comportamento das araras a fez perceber tal realidade: com a perda do habitat natural, as aves passar a comer as frutas do quintal dela, o que antes era raro.

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Foto: Fábio Tito/G1

“Eu não corto uma árvore, só faço pegar a fruta. Eu sempre deixo o que está nascendo para mode de ter mais, senão o mais novo nem conhece. Tem que preservar a natureza”, afirma.

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Os quilombolas kalungas também mantém áreas de cultivo de mandioca, milho, arroz, jiló, abóbora, fumo e algodão. Ou seja, os produtos naturais do Cerrado estão longe de monopolizar o espaço cultivável disponível.

Reza a lenda que o trato com a terra foi aprendido com os indígenas avá-canoeiros, que habitavam a região de Goiás quando o território começou a ser ocupado por pessoas escravizadas que fugiram das minas de ouro da região.

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“Desafio que me mostrem outro lugar do Brasil que tem um Cerrado igual nós temos aqui. E olha que nós vivemos aqui quase 8 mil pessoas aqui dentro, então nosso meio nós sabemos preservar”, diz Vilmar Souza, presidente da Associação Quilombo Kalunga.

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Fonte: G1

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