Já faz cerca de 11 anos que o Sr. Nildo recebeu o diagnóstico de Alzheimer e demência alcoólica. De lá pra cá, sua filha, a professora de educação física Daniele Gome, 35, faz de tudo para ver o pai bem e feliz.
Com o avançar da doença, Daniela viu o afeto que nutre pelo pai, carinhosamente chamado de “Tchutchucão”, ser multiplicado muitas vezes.
Em entrevista ao portal Campo Grande News, Daniele contou que entrou na vida do Sr. Nildo quando tinha 3 anos de idade. Na época, ela veio morar na capital sul mato-grossense após a mãe pedir o divórcio do primeiro casamento.
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“Eu não tive contato com meu pai biológico, viemos para cá e minha mãe conheceu ele (Nildo). Ela trabalhava com vendas e ele na barbearia”, explicou.
Não demorou muito para o padrasto ganhar o status definitivo de pai.
E, apesar das muitas dificuldades financeiras que a família enfrentou quando Daniele era criança, eles sempre encontravam uma forma de serem felizes e se apoiarem. “Aos 13 anos, passei a ser atleta profissional de futsal e futebol por incentivo dele. Éramos bem humildes e como não tínhamos condições, ele me colocava na garupa da bicicleta e me levava para os treinos até debaixo da chuva”, disse.
A família conseguiu se estabilizar financeiramente anos depois, quando Nildo recebeu uma premiação. Com uma boa quantia em mãos, ele investiu na primeira casa de alvenaria, passando a viver de forma mais confortável com a esposa e as filhas.
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“Morávamos na casa de madeira, como se fosse um barracão. Depois dele ter ganhado a premiação, comprou nossa primeira casa, que foi a realização de um sonho”, explicou.
Hoje, aos 19 anos, a professora de educação física se casou, teve a primeira filha e saiu da residência dos pais. De repente, Nildo virou vovô, que não se importava em cruzar metade da cidade de bicicleta para ver a pequena Ana Luiza. “Todo dia, ele pegava a bicicleta, comprava danone e levava para a minha filha. Mesmo que ele fizesse só dois cortes de cabelo, ele pegava o dinheiro e comprava”, disse Daniele.
O diagnóstico de Alzheimer veio pouco depois, com os primeiros sintomas se manifestando durante os passeios de bike do idoso. Ao longo do trajeto, era frequente ele ficar confuso e se perder no meio do caminho. “Ele esquecia os lugares para onde ele ia, começamos a notar que ele se perdia e tremia. Do dia para a noite, ele esqueceu de tudo e chegou a ficar internado várias vezes em clínicas”, desabafou a filha.
Nos anos seguintes, Nildo também foi diagnosticado com demência alcoólica. Enquanto o Alzheimer é de origem genética, a demência é resultado dos anos de consumo excessivo de álcool. “Ele bebia muito”, disse.
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Com o agravamento do estado de saúde do idoso, a mãe de Daniele, que havia se separado dele dois anos antes, abriu mão de si mesma para cuidar do ex-companheiro. “Minha mãe é a fortaleza dele, ela é quem cuida, porque ele é acamado. Ele não anda, os músculos atrofiaram, ele usa fralda, então depende da gente pra tudo”, contou.
Nesse meio-tempo, Daniele decidiu focar nos estudos e na carreira profissional para garantir mais conforto ao pai. Ao decidir o curso que iria fazer, resolveu abraçar algo que sempre gostou – a educação física, – e também realizar um antigo desejo do Nildo.
“O sonho dele era que eu me tornasse professora de Educação Física. Quando criança, eu já queria ser professora, então, comecei a estudar para dar essa vida melhor para ele e a minha filha”.
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Daniele se formou em 2018. No grande dia da colação de grau, seu Nildo esteve presente e não conseguiu segurar a emoção, especialmente quando a filha dedicou à ele o diploma de nível superior. “Ele ficou tão emocionado, que chegou a passar mal e teve que ir embora mais cedo”, lembrou.
Apesar da doença, os laços de afeto entre pai e filha nunca foram tão fortes. Dani visita Nildo todos os dias e, inclusive, optou por trabalhar em uma escola localizada na mesma região onde ele mora.
“Depois da doença, criamos um vínculo muito grande. O afeto triplicou, peguei um amor grande, tudo que faço é pensando nele. Eu o chamo de Tchutchucão e ele fala que sou o amorzão dele”, afirmou.
O Alzheimer afeta consideravelmente a consciência de Nildo, mas ainda assim ele consegue se lembrar de fatos e pessoas do passado, como amigos e familiares. “Ele esquece de coisas recentes e de momento. Ele lembra de mim, da minha mãe, irmãs, dos antigos amigos”, explicou.
Hoje, como os passeios de bike estão fora de cogitação, o “Tchutchucão” de Daniele adora passear de carro com ela. “E de som alto, viu?”, brincou a filha.
“Eu era filha dele, agora ele é meu filho. O amor que tenho por ele, é o amor que sinto pela minha filha”, concluiu a professora.
Fonte: Campo Grande News
Fotos: Arquivo pessoal