‘Quero ajudar a universidade a quebrar paradigmas’, diz primeira professora trans da UFRJ

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Dani Balbi foi admitida recentemente como professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), se tornando a primeira docente trans da instituição de ensino superior em seus 99 anos de história.

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“A transexualidade surgiu em minha vida ainda na infância, quando eu já sentia que existia algo diferente em mim. Na escola eu não tinha vontade de conviver com os meninos, como se espera, e eles também não me recebiam bem”, conta Dani.

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Ela lembra da minha primeira vez que pediu à mãe para colocar seios nela quando crescesse: “Queria ficar igual a Daniela Mercury”.

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A mãe não gostou da ideia e a repreendeu de forma bastante incisiva. Daquele momento em dia, ela percebeu que precisava reprimir aquele desejo. “Ainda não tinha compreendido que eu não era um rapaz e que em algum momento precisaria ajustar isso”, conta.

Com 12 anos, descobriu o termo ‘transexualidade’. Após muita pesquisa, entendeu a si mesma como mulher transexual. No entanto, só assumiu sua identidade feminina quando estava no ensino médio em uma escola maior, mas, ainda assim, extremamente restrita a amigos e à militância política. Em casa, com familiares, Dani não exercia plenamente a identidade de mulher.

Caminho até o doutorado

Sua jornada na academia só começou após ela se apaixonar por literatura no ensino médio. Ao ingressar no curso de letras na UFRJ, não parou mais.

“Comecei a fazer pesquisas, fui monitora e depois de concluir a graduação emendei o mestrado e doutorado. Ao mesmo tempo, com o avanço do processo de transição que pressupõe o reconhecimento da identidade feminina, briga por reconhecimento e direitos em função de gênero, fui me consolidando como uma figura pública dentro da universidade”, conta.

À época, uma mulher transexual ainda era considerada ‘novidade’. “Por eu não ser uma figura que utilizava signos muito ligados ao feminino, ou seja, roupas e acessórios ligados ao papel clássico de uma mulher, era difícil, havia estranhamentos.”

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Dani conta que a postura geral dos professores e colegas sempre foi de acolhimento. Conforme avançava no mestrado e doutorado, ela afirma ter saído muito mais rica no processo – bem como seus colegas e docentes.

“Acho que hoje estamos em outro patamar do que aquele de quando comecei os estudos, mas a situação atual da universidade me preocupa muito. Nos últimos anos conseguimos grandes avanços, fruto dessa relação de maior abertura do espaço de discussão científica e maior protagonismo no sentido dos movimentos sociais. Mas agora é um momento de acirramento, de maior ódio e intolerância, e essas conquistas estão ameaçadas.”

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Dani e amigos na defesa de sua tese de doutorado na UFRJ

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Primeira professora trans da UFRJ

Dani saiu da posição de estudante e se tornou professora no Colégio de Aplicação da UFRJ. “Esse período ficou marcado por uma das histórias mais bonitas, porque os alunos fizeram uma campanha de arrecadação de fundos para viabilizar minha cirurgia de adequação de gênero e isso marcou minha trajetória na educação básica“, diz.

“Depois, na universidade, fui monitora da graduação, acompanhei as aulas de minha orientadora no mestrado e assumi turmas como parte dos requisitos para a manutenção de minha bolsa de pesquisadora no doutorado.”

Nesta última etapa, dedicada ao estudo de letras, política e cultura, Dani se tornou a primeira mulher trans doutora pela UFRJ. Neste ano, ela assumiu sua primeira turma de graduação da Escola de Comunicação (ECO) da universidade, na cadeira de comunicação e realidade.

“Chegar na sala de aula e ver os alunos é muito desafiador, bonito e impactante. percebo que os alunos chegam muito diferentes da menina que eu cheguei na universidade. Com mais conhecimento, disposição para a diferença, acolhimento, menos medo e susto, com um dicionário bastante íntimo no tratamento da diversidade.”

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Baixa representatividade

Na faculdade de letras da UFRJ, Dani conta ter tido apenas 2 professoras negras em um total de 48 professores (0,5% dos docentes na graduação). No mestrado e doutorado, não teve professores negros.

“[Em outras palavras], em um total de 60 professores pela minha passagem acadêmica, tive 58 brancos, sendo que nenhuma professora ou professor era transexual. Então, chegar nesse lugar é especial”, afirma a professora.

“Lembro quando o semestre começou, olhei aquela turma, comecei a falar e em um momento a ficha caiu. Falei de meu processo de transição, e foi um choque para eles, mas um choque positivo. Isso me dá a dimensão de quanto a universidade se transformou e de quanto ela ainda precisa se transformar, porque não pode mais ser um choque para as próximas gerações. A gente precisa se acostumar a ter mais professoras negras, transexuais, ocupando esses espaços de protagonismo. Quero muito contribuir para que a universidade seja sempre esse lugar de acolhimento e quebra de paradigmas“, conclui.

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Fonte: Época/Fotos: Arquivo Pessoal

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