Hoje tive uma reunião difícil. Foi exaustiva, me senti muito sozinha. Parecia que um eco estava me empurrando pra um abismo e eu não tinha onde me agarrar. Ainda mais porque as razões que levaram a essa reunião de trabalho não fazem sentido pra mim. Isso que dá saber quem eu sou. Isso que dá saber que o que importa nessa vida é o amor. Todo o resto fica insosso, fica triste. Mas o que conta, não é a reunião, e sim porque eu vim parar aqui.
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Assistindo a uma palestra com a chef de cozinha Paola Carrosella, me veio um insight: você se lembra por que começou tudo isso?
Ela conta sua experiência como chef e empreendedora, mas pra mim ela vai além e discrimina um processo de desconstrução e autoconhecimento profundo. Num de seus momentos de crise, ela narra a experiencia de visualizar os processos e decisões que ela poderia tomar pra mudar sua situação. Passei a admira-la não apenas pela sua gastronomia, mas pela visão revelada do ser que ela escolheu ser.
Você será desafiado a se reconhecer. Isso acontece o tempo todo. Você vai ser posto à prova algumas centenas de vezes, como se houvesse uma marcha confusa mandando você parar ou seguir um caminho diferente. Você vai ficar triste, chegar em casa, assim como eu, tocar uma música meio tosca no violão e chorar. Você vai se sentir só, como se preso a um cordel. Não é por mal. Toda crise tem seus benefícios.
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Em uma parte isolada do Egito, povos antigos costumavam ter um hábito peculiar: os membros se dão tapas no rosto. Sim, eles se batem, parece uma estapiação alucinada. Mas a orientação é que a alma precisa se atentar pra sua missão. Quando o Sekhem (alma em egípcio) está sofrendo influências de uma energia mais elevada, ele tende a divagar sobre outras terras, como se estivesse perdido. Ao passo que eles se batem, cantam em voz alta, coisas do tipo: você não está perdido, você não está sozinho, você tem uma missão!
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Você tem uma missão. Mesmo quando você está exausto e as coisas não parecem fluir. Mesmo quando você acha que está perdido. Você escolheu ser algo importante no planeta e por isso precisa se lembrar dessa fantástica missão.
Eu não tô falando de carreira. Esqueça tudo o que o mundo nos ensina sobre nós mesmos. Esqueça essas relações erradas de rótulos, títulos e toda essa ganância exacerbada. Você não acordou hoje cedo pensando em um cargo mais elevado. Você não nasceu com uma carreira definida. Não mesmo.
Quando você acorda de manhã, pra quem você olha primeiro? Qual a sua condição mental? Onde seus olhos batem primeiro quando se abrem? A tua mente, cientificamente falando, não processa nas primeiras horas do dia as informações tal qual irá processar ao meio-dia ou às seis da noite. Ela reflete um estado de completa inercia, fruto de um processo de descanso. Diz-se que nas primeiras horas do dia, todos são iguais, pois estão em consonância com a tríade coração, mente e corpo. Como se estivessem em processo de meditação. É como se a gente experimentasse a iluminação. Não há muitos quereres nessas horas do dia. Não há muitos planos. É um levitar de mente, uma purificação. É desse ser entregue a natureza que a gente deve se lembrar no fim do dia. Cerca de oito minutos depois vem as lamentações, preocupações e a lista do supermercado.
Depois de tocar por cerca de uma hora o violão emprestado, comecei a me recordar das várias pessoas que fui ao longo do dia, e todas chamaram a minha essência. Me lembrei porque comecei tudo isso. Tem algo em mim na inercia, sem muita ambição, apenas querendo aquela lentidão da tríade alinhada, apenas querendo despertar quem eu sou nessa loucura de mundo que vivemos.
E toda vez que eu me chamo e me pergunto: você se lembra por que veio parar aqui? Você se lembra quem você é? Eu me recordo de minha professora da alfabetização, lá no sertão de Pernambuco, que me ensinou que eu precisaria me despedir de minha mãe pra aprender. Que ninguém me faria mal; mas se um colapso acontecesse eu iria me virar. Porque assim é a vida. Eu teria de aprender tudo sozinha. Sem minha mãe. Pareceu duro? Foi a coisa mais reconfortante que já ouvi. Desde esse dia decidi que queria ser professora. Desde esse dia decidi que queria explorar as mentes, ajudar as pessoas a encontrar seus próprios espaços e a desvendar os buraquinhos vazios de sua memória.
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Os mesmos povos egípcios, antigamente, ao passar por mais de uma experiencia dolorosa, como guerras vencidas, construções realizadas ou conquistas alcançadas, se marcavam, como se fossem as primeiras tatuagens da história. Era uma forma de lembrar que sendo quem eles são, conseguiram cumprir uma meta, alcançaram o que eles queriam.
Você se lembra por que começou? Você se lembra de quem você é? Nessa vida o importante é se reconhecer. Nesse turbilhão de informações, uma crise vem como um tapa pra realinhar nosso Sekhem. Olhe para as marcas antigas e lembre-se como chegou até aqui. Então sossega, você vai viver o que tem pra viver agora. Você vai estar mais longe amanhã. Você se verá de um jeito novo, acredite, por experiência própria.
Imagem de Jiffy Lube, foto tirada em Québec
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