Relato sobre motorista do Uber que ajudou venezuelano a conseguir trabalho em Manaus viraliza

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“Desigualdades Sociais” era o tema da palestra que o Lucas Evangelista foi convidado a dar num Centro Espírita, em Manaus, no domingo passado (23). Lucas pediu um Uber pra ir palestrar e acabou conhecendo o Seu Pedro. Coincidência ou não, o motorista compartilhou com o jovem uma história que tinha tudo a ver com o tema da sua palestra.

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Seu Pedro trabalha em uma empresa que fabrica triciclo. Mas aproveita o tempo livre das férias para ganhar um dinheiro extra. Ele contou para Lucas que certo dia viu um venezuelano no semáforo de uma avenida com uma placa que dizia “Venezuelano, Preciso de Trabalho”.

“Aqui em Manaus já são mais de 60 mil refugiados venezuelanos que buscam uma condição de vida melhor. Há inúmeros casos tristes”, relatou Lucas no seu Facebook. O post recebeu 49 mil curtidas e foi compartilhado 26 mil vezes.

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O rapaz de 21 anos, um ano mais novo que Lucas e identificado apenas como Jona, chegou em Manaus com esperança de uma vida melhor. Comovido com sua força de vontade, Seu Pedro convidou Jona para entrar no seu carro, pegou o primeiro retorno e foi direto pra casa. Era hora do almoço.

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Já em casa, Seu Pedro deu uma toalha para Jona e indicou onde era o banheiro, para que pudesse tomar banho e então almoçar juntos. Depois do almoço, Seu Pedro levou Jona para o semáforo onde o tinha encontrado, e deixou uma nota de 20 reais com o rapaz pra ele fazer seu currículo e imprimir umas cópias.

“No final do dia, já notinha, Seu Pedro voltou e encontrou Jona no mesmo lugar da avenida. Jona havia feito 5 cópias de seu currículo. ‘E sabe uma coisa? O currículo dele era maravilhoso, meu filho’, disse Seu Pedro pra mim. No dia seguinte, Seu Pedro foi deixar o currículo de Jona no RH da empresa em que trabalhava.”

A mulher do RH viu o currículo e fez uma “careta”. Disse que a empresa não poderia contratar Jona porque ele é venezuelano, que não saberia falar uma palavra em português. “Achei que a gente estava aqui pra trabalhar e não pra falar”, respondeu Seu Pedro. A mulher do RH deu uma risadinha e desconversou.

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Mas eis que o Diretor da empresa entra na sala, cumprimenta Seu Pedro e a mulher do RH, e pergunta qual era o assunto da conversa dos dois. Seu Pedro explicou tudinho e o Diretor pegou o currículo de Jona pra ler. “Ele está contratado, começa essa segunda já. Dona Fulana, quero que você providencie tudo, todos os exames médicos, roupas, botas, tudo”, recomendou o Diretor.

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Seu Pedro voltou para casa radiante. Não via a hora de contar para Jona sobre o emprego que ajudou a conseguir pra ele. “Meu filho, esteja pronto às 6h40, vou te levar no seu primeiro dia de trabalho. Vou passar bem aqui, nesse horário. A partir de agora vamos pro trabalho juntos.”

Que história, né?! Bem, eles chegaram no local onde Lucas daria a palestra e se despediram. Seu Pedro abraçou Lucas, lhe deu um beijo carinhoso no rosto e desejou uma boa palestra para o jovem, dizendo que seria um sucesso. “Mal ele sabia que tinha mudado completamente todo o escopo da minha fala naquela noite.”

Foi isso o que aconteceu: Lucas falou do esforço do Seu Pedro para ajudar o jovem venezuelano a conseguir um trabalho e o quanto aquilo tocou seu coração. Um esforço que sem dúvida contribui para diminuir as desigualdades sociais, muitas vezes, causadas pela falta de pessoas que podem intermediar oportunidades para quem precisa se reerguer. Seu Pedro foi essa pessoa na vida de Jona!

“Seu Pedro me inspira. Seu Pedro é uma daquelas pessoas que te fazem acreditar num mundo melhor. Onde quer que esteja, Seu Pedro, esteja em paz, iluminando muitos caminhos”, bradou Lucas.

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Leia o relato de Lucas na íntegra:

“Sobre o Seu Pedro, o melhor Uber que já peguei na vida
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Estava eu me preparando para palestrar mais uma vez num Centro Espírita aqui em Manaus. Me convidaram para falar sobre Desigualdade Sociais, que é um tema super delicado e difícil. Li bastante no decorrer da semana e me preparei como pude, como em qualquer outra palestra.
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Quando chegou o dia da palestra, pela noite, resolvi pedir um 99 (a narrativa a seguir não é nada contra o 99, é só um relato do que aconteceu, tenho andado bastante de 99 inclusive). O primeiro motorista cancelou a viagem, o segundo perguntou se era cartão ou dinheiro e eu, ingenuamente, “Boa noite, é cartão”, e cancelou a corrida em seguida, o terceiro aceitou a corrida e ficou parado por quase 5 minutos, e então fui forçado a cancelar. Como precisava muito chegar no centro espírita para palestrar, pedi um Uber.
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Dentro de 2 minutos estava dentro do carro do Seu Pedro, um senhorzinho gentil e muito amoroso. Em segundos já estávamos falando sobre minha palestra e o tema. E então, com extrema humildade, Seu Pedro me narra uma história sua da semana passada.
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Seu Pedro trabalha no Distrito de Manaus, numa empresa que fabrica triciclo, e como está de férias faz bico de Uber pra ganhar um extra. Ele sempre dá dinheiro no semáforo, não julga, não questiona, deixa a consciência da pessoa que recebe tome a decisão poe conta própria do que fazer com a esmola. No dia em questão ele já havia dado 4 esmolas e então estava sem moedas no carro. Ele olhou de relance e viu uma placa “VENEZUELANO, PRECISO DE TRABALHO. Aqui em Manaus já são mais de 60 mil refugiados venezuelanos que buscam uma condição de vida melhor. Há inúmeros casos tristes, de gente batalhadora que fugiu da Venezuela, inclusive de uma Diretora de hospital de lá, com mestrado e tudo, que hoje luta pra ser diarista aqui em Manaus. “Meu filho, eu não sou rico não, sabe?”, disse Seu Pedro, “Mas sabe o que eu fiz?”.
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Seu Pedro parou o carro de um lado da avenida e buzinou, e o venezuelano veio correndo em sua direção. Eles bateram um papo rápido, seu nome era Jona, ele tinha quase a minha idade, 21 anos (tenho 22), e na sua cidade não havia mais comida, por isso ele fugiu do seu país até chegar em Manaus, onde estava com esperança de mudar sua vida pra melhor. “Meu filho, você tem problema de entrar no meu carro?”, perguntou Seu Pedro. Jona estranhou, mas entrou no carro. Sabem o que Seu Pedro fez? Ele deu meia-volta, pegou o primeiro retorno e foi direto pra casa. Já era do almoço.
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Quando chegou em casa, ele conduziu Jona até dentro de casa. Um desconhecido. Alguém que ele não conhecia a índola. Não sabia se era perigoso ou não. Seu Pedro lhe deu uma toalha e lhe indicou onde era o banheiro, para ele pudesse tomar banho. Enquanto Jona tomava banho, Seu Pedro correu pra cozinha e fez uma comida rápida, aqueceu o que já estava pronto e serviu. Quando Joana saiu do banheiro, ambos comeram juntos. Até aí Jona estava transbordando gratidão, completamente grato ao ato de pura generosidade de Seu Pedro. Mas Seu Pedro precisava voltar pra rua pra trabalhar. Colocou Jona, limpo e alimentado, dentro do carro e levou de volta para o mesmo lugar na avenida onde havia o pegado, mas não sem antes tirar do bolso uma nota de R$ 20,00 e entregar para Jona. “Meu filho, pege esse dinheiro. Faça seu currículo e tire cópias, eu vou voltar mais tarde para pegar seu currículo e distribuir pra você.”
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No final do dia, já noitinha, Seu Pedro voltou e encontrou Jona no mesmo lugar da avenida. Jona havia feito 5 cópias de seu currículo. “E sabe de uma coisa? O currículo dele era maravilhoso, meu filho”, disse Seu Pedro pra mim. No dia seguinte, Seu Pedro foi deixar o currículo de Jona no RH da empres em que trabalhava. 
“De quem é esse currículo?”, perguntou a senhora do RH. “É de um amigo meu, fulana.”
“Ah, legal, ele é de onde?”
“Ele é venezuelano.”
Dona Fulana fez careta. “Não podemos aceitar ele”, disse ela.
“Porque não?”
“Porque ele é venezuelano, ele não vai saber falar nada.”
Seu Pedro respondeu com outra careta. “Achei que a gente estava aqui pra trabalhar e não pra falar.”
Dona Fulana riu e desconversou. E aí vem a Providência Divina pra faze graça. O Diretor da empresa entrou na sala do RH bem nessa hora. Cumprimentou Seu Pedro e Dona Fulana, e perguntou o que estava acontecendo. Seu Pedro explicou o ocorrido e o Diretor pegou o currículo de Jona pra ler. Longo em seguida respondeu, “Ele está contratado, começa essa segunda já. Dona Fulana, quero que você providencie tudo, todos os exames médicos, roupa, botas, tudo.”
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Nesse dia Seu Pedro voltou felicíssimo pra casa. Voltou e lá estava Jona, no semáforo, com a mesma placa de papelão, pedindo emprego. Seu Pedro buzinou e Jona veio correndo até seu encontro mais uma vez. Nem preciso dizer o quanto Jona ficou agradecido. “Meu filho, esteja pronto às 6h40, vou te levar no seu primeiro dia de trabalho. Vou passar bem aqui, nesse horário. A partir de agora vamos pro trabalho juntos”.
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Quando chegamos no meu destino, Seu Pedro me abraçou, me deu um beijo carinhoso na bochecha e me desejou boa palestra, dizendo que ela ia ser um sucesso. Ainda me deu o seu número de celular, “Meu filho, você é um bom garoto, fala bem e tem cabeça diferente do jovem da sua idade. Se precisar de qualquer coisa, alguém pra conversar, só me ligar, vai com Deus”. Mal ele sabia que ele tinha mudado completamente todo o escopo da minha fala naquela noite. 
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Homenagiei Seu Pedro na palestra. Falei do seu exemplo e do quanto me tocou, ao mesmo tempo que falei das desigualdade Sociais. Porque, afinal, a fome machuca. A dor dilacera. “O mundo está perdido”, dizem uns. Mas Seu Pedro… tinha tudo pra ir pelo caminho comum. Ele podia reclamar, criticar, julgar, apontar o dedo, mas escolheu a “parte boa” (Lucas 10:42).
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Acontece que em muitas ocasiões nós olhamos para os infortunados da vida, os sofredores de todos os dias, o mendigo faminto, o animal abandonado, e perguntamos “Onde está Deus? Porque tanto sofrimento”, mas precisamos lembrar que a desigualdade é obra do homem e não de Deus, e que se temos olhos para ver, também temos braços pra fazer. Seu Pedro olhou e seguiu Jesus, mesmo sem saber. Seu Pedro fez a diferença. Seu Pedro me inspira. Seu Pedro é uma daquelas pessoas que te fazem acreditar num mundo melhor. Onde quer que esteja, Seu Pedro, esteja em paz, iluminando muitos caminhos.”

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crédito da imagem de capa: Reprodução/Facebook Lucas Evangelista

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