Voluntário ensina inglês para funcionários de limpeza que achavam que eram “xingados”

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voluntário ensina inglês funcionários limpeza

A mágica da vida é que as pessoas que querem um mundo com mais oportunidades para todos acabam se encontrando. Você deve se lembrar que no início do ano falamos sobre uma empresa que alfabetizou os auxiliares de limpeza, quando o mais prático teria sido demiti-los e contratar funcionários letrados.

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Mas, como bem falou a community manager da WeWork Paulista, Nátaly Bonato, ao Razões para Acreditar: “As pessoas não são descartáveis”. Ela procurou nas escolas que fazem parte da comunidade alguém que pudesse alfabetizar os funcionários e encontrou a pedagoga Dani Araujo. Os funcionários foram alfabetizados e rolou até uma formatura.

Alguns meses se passaram, e Nátaly novamente conheceu uma pessoa disposta a doar seu tempo e habilidades para a equipe de limpeza, só que desta vez para ensinar inglês. Numa conversa de elevador, o Joabe Cardoso parabenizou Nátaly pelo projeto de alfabetização da antiga equipe de limpeza.

No outro dia, os novos auxiliares de limpeza comentaram com Nátaly que achavam que os gringos “estavam xingando-os na copa” porque não entendiam bulhufas do que diziam. Já viu, né? Nátaly lembrou de Joabe na hora.

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Ele tem uma escola de inglês na WeWork Paulista, chamada Inglês Com J, e se ofereceu para ensinar o idioma à equipe de limpeza gratuitamente. Joabe dá aulas para três turmas, em diferentes dias e horários, para atender todos os funcionários que demonstraram interesse nas aulas. A pessoa certa, no lugar certo.

A mãe de Joabe fazia limpeza para cuidar dele e do irmão mais novo. Ele cresceu em um bairro pobre da Zona Leste de São Paulo e por isso conhece bem a realidade dos seus alunos. Seu sonho de infância era conhecer os Estados Unidos. Para isso, sua mãe disse que ele precisaria aprender inglês. Apesar das dificuldades, Joabe aprendeu o idioma por conta própria e já visitou os Estados Unidos em duas oportunidades.

Quando as aulas começaram, os funcionários desconfiavam que seriam capazes de aprender inglês, pois mal falavam português, segundo eles. Mas Joabe mostrou que era possível. “As primeiras aulas que eu tive com eles não foram de inglês. Primeiro, tive que convencê-los de que aquilo era possível porque eles realmente se olham na parte de baixo da pirâmide”, conta Joabe em conversa com o Razões para Acreditar.

“A maioria deles é filho de nordestino ou é nordestino. A maioria mora em favelas da Zona Leste, da Zona Sul. Então, eu contei pra eles que sou da Zona Leste e meus pais são baianos. Cresci comendo farinha, tapioca. Perguntei por que eles não podiam [aprender inglês].”

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Da esquerda para a direita: Denis, Janiele e Joabe.

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Com sua trajetória de vida, Joabe mostrou aos funcionários que eles são pessoas iguais às outras, que podem alçar voos que nunca imaginaram. A própria impressão de que eram ‘xingados’ pelos gringos vem de um sentimento de inferioridade, de alguém que não está acostumado a ser elogiado. Foi só depois desse bate-papo que as aulas de inglês começaram pra valer.

“Está sendo maravilhoso as aulas. Nunca tive a oportunidade de fazer. Como a gente ganhou, tem mais que aproveitar”, conta Denis. “A empresa é mais voltada para o estrangeiro. Então, sempre para uma pessoa e pergunta. E a gente ficava com aquela cara [de não saber o que falar].”

“Você sabendo falar [inglês] você já tem uma resposta para dar. Teve uma vez que o cara passou por mim e não sabia como descer pro térreo Ele falou ‘zero’ aí eu entendi. Como eu já tinha estudado, eu soube o que fazer na hora para o cara descer pro térreo”, lembra a colega Janiele.

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Denis diz que o inglês vai abrir novas portas para ele. Ele já pensa até em sair do Brasil e diz que vai estudar bastante para isso. “Vou aprender, me esforçar para sair. Buscar outros conhecimentos, outras profissões lá fora. Esse inglês daqui está abrindo portas pra gente. A gente não tem estrutura pra pagar. Não tem aquele tempo integral pra estudar. Aproveitamos o máximo para abrir portas.

voluntário ensina inglês funcionários limpezaEle e Janiele estudam com apostilas desenvolvidas por Joabe. O legal é que as aulas começam uma hora antes deles pegarem no batente. Mas o estudo não para por aí. Na volta para casa, se for possível abrir a apostila no ônibus ou no metrô, eles estão estudando. Em casa, também se esforçam para estudar mais um pouco.

A dupla também diz escutar uma rádio americana na internet, que Joabe indicou para eles treinarem a pronúncia das palavras. No começo, era complicado, mas hoje já conseguem “pegar” várias palavras. “Nunca é tarde pra aprender. Muitas pessoas se formam com 50 anos”, ressalta Jani.

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A mãe de Denis super apoia as aulas. Ela é sua maior incentivadora, mas às vezes chega a pedir para filho falar mais português em casa. “Contei pra ela que o inglês super me incentivou. Ela fala pra eu fazer porque não deu pra fazer na escola pública. Tem inglês na escola pública, mas não é esse inglês avançado. É o inglês primário”, destaca ele.

Denis também exaltou a iniciativa da WeWork. “Aqui é tudo a mesma coisa. A gente sempre para almoçar com eles [a comunidade]. Fiquei admirado. Nenhuma outra [empresa] dá esse espaço.”

A conversa que Nátaly e Joabe tiveram no elevador da WeWork foi apenas o começo de uma vida nova para Denis e Janiele. Com os planos que hoje fazem e que antes não se permitiam fazer, estamos certos disso. E fica a lição: se acreditar em si é o primeiro passo para mudar sua vida, dar oportunidades é o primeiro passo para mudar o mundo.

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crédito das fotos: Vicente Carvalho/Razões para Acreditar

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